sábado, 29 de maio de 2010

Ator Dennis Hopper morre aos 74 anos

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Texto e foto: último segundo

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Conhecido por dirigir e atuar em Sem Destino, Hopper morreu de complicações de um câncer de próstata

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Foto: © AP

O ator Dennis Hopper

O ator Dennis Hopper, famoso por dirigir e atuar no clássico do cinema Sem Destino, de 1969, morreu às 8h15 deste sábado (12h15 em Brasília) em decorrência de um câncer de próstata. De acordo com informações do site norte-americano MSNBC, ele estava ao lado de familiares e de amigos em sua casa em Venice, na Califórnia.

Hopper atuou em mais de 100 filmes ao longo dos 56 anos da carreira e recebeu duas indicações para o Oscar, o prêmio mais importante do cinema. A primeira indicação veio como co-autor de Sem Destino, em 1969. A segunda indicação só viria 17 anos depois, no papel de técnico alcoólatra de um time de basquete num drama chamado Momentos Decisivos.

Considerado um dos maiores filmes do cinema norte-americano, Sem Destino ajudou a fazer emergir uma nova era em Hollywood, na qual a velha guarda foi forçada a ceder poder para cineastas jovens, como Francis Ford Coppola e Martin Scorsese.

O filme, um sucesso de bilheteria feito com baixo orçamento, originalmente concebido por Fonda, levou para o grande público do cinema temas como tráfico de cocaína, consumo de maconha e ciclistas cabeludos.

"Nós olhávamos para toda a década dos 60 e ninguém havia feito um filme com alguém fumando maconha sem sair por aí e matar um punhado de enfermeiras", disse Hopper ao semanário Entertainment Weekly, em 2005. "Eu queria que Sem Destino fosse uma cápsula do tempo sobre aquele período."

Hopper e Fonda atuaram ao lado de Jack Nicholson, então um desconhecido, que fazia o papel de um advogado alcoólatra. Mas não foi uma convivência harmoniosa. Hopper brigava violentamente com todo mundo e, mais tarde, Fonda o descreveria como "um excêntrico um pouco fascista". A amizade se acabou.

A lista de papéis importantes na carreira de Hopper é extensa. Ele atuou ao lado de seu mentor, James Dean, em Rebelde Sem Causa e Assim Caminha a Humanidade, nos anos 1950. E estrelou personagens maníacos em filmes como Apocalypse Now, Veludo Azul e Velocidade Máxima. Quando não estava atuando, Hopper gostava de pintar e fazer esculturas.

Nascido em Dodge City, no Kansas, Hopper deixou a cidade aos 18 anos para tentar a sorte em Hollywood. “Tudo o que aprendi, aprendi aqui”, disse o ator. “Hollywood é a minha casa e a minha escola”.

Na realidade, a vida privada de Hopper nunca foi monótona. Seus casamentos incluem uma união de apenas oito dias, em 1970, com Michelle Phillips, do conjunto The Mamas and Papas, que mais tarde diria à revista Vanity Fair ter sido submetida a um tratamento "excruciante".

Em setembro de 2009, Hopper foi levado às pressas para o hospital nos Estados Unidos em consequência da doença. Desde março deste ano, Hooper é um dos homenageados na Calçada da Fama de Hollywood. Em janeiro, ele pediu divórcio de sua quinta mulher, Victoria Hopper.

Com informações da agência Reu

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Bazar das Letras - Contos Matutos de Haroldo Felinto

Cordel da Mulher Atrevida

Blog: Balaio da Poesia Visite!




l

Não sou Mulher que se diga
ETA! Que “Dona Patroa!
Também o pior não diga,
Se eu não sou tão a “Boa,”
Chame-me de Atrevida
Um pouco de Pervertida,
Porém jamais fui atoa.
ll

Nunca fui de ganhar Temas,
Mais me visto de Poema
Sou meu próprio Diadema.
Chamem-me Pedra Noventa
Vou pra casa dos Sessenta
Meio a reverso e Dilema.
Enfim, sou meu próprio lema.

lll

Eu nasci bem desprovida
Dos atributos reais,
Era triste e inibida.
Com silhueta normal,
Ás vezes desengonçada
Em outras, um pouco ousada,
Mais sem trejeitos Fatais.
.

lV

Aos poucos fui me encarando
Aceitando-me como eu era...
Não era a Bela Encantada
Mais, eu vivia essa espera.
De um dia transformar-me
Na mais formosa Donzela
E ser de fato a Fera.

V

Abri porteira no “Mundo”
Por onde eu nem caberia,
Pisei abismo profundo
Submergi com “Valia”
Comi poeira da estrada
Atravessei invernada
Estampei-me de “Ousadia.

Vl

Só não Roubei nem Matei
Nem em vícios fui parar.
Lombo de Touro eu montei.
Pulei muro a me arrastar
Para poder escapar
Saltei por cima do Mar
Tentando me equilibrar.

Vll
Quem conhece a Face Dura
Do chão que pisa a Pobreza,
Colhe a “Provisão Madura
E trás no rosto a Beleza
Planta capim no asfalto
Produz seu grande roçado
Sem cansaço e sem Moleza.



Vlll

Porém quem não compreender
É que não viveu no Fio,
Da Navalha a entender,
Que na voz de um arredio
Existe um gritar latente
Não se tem vida decente
Com a barriga vazia.



lX
Senti dor e desalento
Sem poder da nem um Pio.
Assemelhei-me ao jumento,
Quando lhe falta alimento
Inclina pra baixo a crina
Faz seus passos, sua Sina
Relincha buscando alento.

X
Para encurtar essa estória,
Guarde-me em sua memória.
Sou filha da “Persistência”
Tenho irmãos com Sapiência
Doutor em Sabedoria,
Penso com muita Ousadia
Sou filha da "Valentia."

Goretti Albuquerque.

CHARGE - Ficha Limpa



CHARGE: créditos para Nani

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Nove motivos para o odiar o cinema 3D, por Roger Ebert

O crítico de cinema norte-americano Roger Ebert, um dos mais respeitados do mundo, publicou na Newsweek uma lista com os nove motivos que o fazem odiar a tendência atual de filmes 3D – esse engodo tecnês feito para salvar filmes sem tutano. O crítico de cinema brasileiro Ricardo Calilu traduziu – e comentou – a lista em seu blog.

1) Desperdiça uma dimensão.

2) Não acrescenta nada à experiência de ver filmes.

3) Pode ser dispersivo.

4) Pode causar náusea e dor de cabeça.

5) Você já percebeu que o 3D parece um pouco escuro?

6) Vão fazer uma boa grana vendendo novos projetores digitais.

7) As salas de cinema cobram uma taxa extra pelo 3D.

8 ) Eu não consigo imaginar um drama série, como Amor sem Escalas ou Guerra ao Terror em 3D.

9) Sempre que Hollywood se sente ameaçada, ela recorre à tecnologia: som, cor, widescreen, cinerama, 3D, som estéreo e, agora, 3D de novo.

E você, concorda? Eu particularmente nunca vi uma projeção tridimensional que fosse realmente convincente – que dizer de acrescentar algo à história.

http://blogs.estadao.com.br/alexandre-matias/2010/05/12/nove-motivos-para-o-odiar-o-cinema-3d-por-roger-ebert/#comments

quinta-feira, 13 de maio de 2010

AS QUAIS, OS QUAIS: SÓ USE PARA EVITAR AMBIGUIDADE

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Ano 11 - nº 498 - 13/05/2010
AS QUAIS, OS QUAIS:
SÓ USE PARA EVITAR AMBIGUIDADE

Ninguém duvida de que a própria língua tem expressões estilisticamente feias. É o caso dos pronomes “os quais”, “as quais”, que, além de parecerem pedantes, porque chamam muito a atenção para eles mesmos, devem ser evitados ou usados com moderação. Só devem ser empregados em último caso e para evitar qualquer ambiguidade. Não havendo possibilidade de um duplo sentido, use um simples e proveitoso “que” para se referir ao que disse anteriormente.

Exemplo: “Ele tem um brinde exclusivo dos jornais os quais [que] assina.”

Consultexto: 13 anos sem sair da linha.

COPA DO MUNDO 2010 - Ganso astravessado com Dunga




















Fonte: Charge Online

segunda-feira, 10 de maio de 2010

GENTILEZA DEZ, GRAMÁTICA ZERO

Texto e foto: Blog do Mourão

A frase abaixo está escrita no blog de Dilma, http://www.dilmanaweb.com.br, pré-candidata à Presidente da República:
“É uma grande alegria te receber no meu blog, onde você vai conhecer melhor a minha história de vida. Seja muito bem-vindo.” A casa é sua. Dilma.


Pode até ser muito popular essa desajeitada concordância, mas se ela fosse realizar o ENEM, com certeza seria reprovada. A concordância mandou lembranças…

Mascote da Copa do Mundo de 2010 na África do Sul


Zakumi - Mascote da Copa do Mundo de 2010 na África do Sul - 19º Copa do Mundo Fifa
Zakumi - Mascote da Copa do Mundo de 2010 na África do Sul - 19º Copa do Mundo

Quem é Zakumi?
Zakumi é a mascote oficial para de FIFA para a Copa do Mundo de 2010 na África do Sul.

O que é Zakumi?
Zakumi é um leopardo com o cabelo verde de 16 anos (em 2010).

O que significa Zakumi?
O código "ZA" representa a África do Sul ("Zuid-Afrika" em holandês) e "Kumi" significa dez (ano da Copa do mundo) em várias línguas africanas. A palavra "Zakumi" também pode ser entendida como "vem aqui" em algumas línguas sul-africanas.

Quando Zakumi nasceu?
Zakumi foi apresentado em 22 de setembro de 2008, mas a mascote "nasceu" em 16 de junho de 1994, dia da juventude na África do Sul. O ano de 1994 representa o nascimento de uma nova África do Sul, com a introdução das eleições democráticas no país. Como Zakumi terá 16 anos na Copa do Mundo ele também representa a nova geração que nasceu num país sem a política racista do Apartheid.

O que é Apartheid
O Apartheid foi uma política racial adotada legalmente em 1948 na África do Sul. Apartheid significa "separação" em africâner, língua germânica falada na África do Sul e na Namíbia. Neste regime a população negra (maioria no país) tinha de viver separada da minoria branca e não era reconhecida como cidadã em seu próprio país. O Apartheid foi abolido em 1990. Quatro anos depois a África do Sul escolheu para presidente em eleições diretas o principal representante do movimento anti-apartheid, Nelson Mandela.

fonte
http://www.quadrodemedalhas.com/futebol/copa-do-mundo/copa-mundo-2010-mascote-zakumi.htm

Mascote é palavra feminina

Por Thaís Nicoleti

UOL 100510

"O Zakumi, um leopardo de cabelo verde, é a mascote oficial da Copa do Mundo de 2010 na África do Sul."

São vários os substantivos que oferecem dúvida quanto ao gênero. Em tempo de Copa do Mundo, é bom ficar atento ao gênero da palavra "mascote", que, de origem francesa, é feminina. No trecho destacado, o termo foi usado corretamente.

Também de origem francesa é "vernissage", palavra masculina que, ao pé da letra, quer dizer "envernizamento", mas que se usa como sinônimo de abertura de exposição de obras de arte. O nome tem origem no fato de o envernizamento ser a última etapa do trabalho do pintor, aquela que ele deixa para o dia da abertura da exposição. Dizemos, então, "o vernissage".

A bolsinha que serve para guardar objetos de uso pessoal chama-se "nécessaire", outra palavra francesa masculina. Dizemos, portanto, "o nécessaire". Já "musse" (forma aportuguesada de "mousse"), é palavra feminina, tanto a musse de chocolate como a musse para os cabelos. "Crepe" é masculino, tanto o tecido como a panqueca ("o crepe"), "fondue" é um termo originalmente feminino ("a fondue"), mas já se aceita o seu uso como masculino no Brasil; "quiche" aceita os dois gêneros ("a quiche" ou "o quiche"), como ocorre com "omelete", palavra feminina na origem francesa, mas já de dois gêneros no português brasileiro.

"Cobaia" só se usa no feminino, exatamente como "cal" e "alface". Dizemos, portanto, "a cobaia", "a cal" e "a alface" (ou "o pé de alface"). Já a palavra "dó", no sentido de compaixão, é masculina ("o dó que sentiu foi tão grande"), assim como "o manete" (embora, em francês, "manette" seja um termo feminino), "o console" e "o tsunami".

Há termos que mudam de sentido quando mudam de gênero. Esse é o caso de "lotação", por exemplo. Dizemos "a lotação do teatro", no feminino, mas o veículo de transporte coletivo é "o lotação" (como aparece no título do filme "A Dama do Lotação", baseado em texto de Nelson Rodrigues).

"A rádio", no feminino, é a emissora; "o rádio", no masculino, é o aparelho ou mesmo o meio de comunicação (é o que ocorre em outro título de filme, "A Era do Rádio", dirigido por Woody Allen).

Há vários outros exemplos, que, oportunamente, abordaremos neste espaço.

domingo, 9 de maio de 2010

É Necessário Estar Sempre Embriagado

Por Airton Soares e..Charles Baudelaire (Que embriaguez, a minha. Todo pose , todo prosa - sem ser chamado - ao lado do Mestre!)

É necessário estar sempre embriagado. (1) Tudo está aí: é a única questão. Para não se sentir o horrível fardo do Tempo que quebranta os vossos ombros e vos curva em direção à terra, deveis vos embriagar sem trégua. Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, como quiserdes. Mas embriagai-vos.” Charles Baudelaire

(1) "Tudo está aí". Cabe parafrasear Cecília Meireles: O instante existe e a nossa vida está completa. Apenas, não vivemos em plenitude; falta a nós a `embriaguez sem trégua;´ Falta a nós, interesse:inter+essere, envolvimento na essência das coisas.

Não seja uma pessoa morna e indiferente às vicissitudes mundanas. "Cante, dance, sorria e chore". Dê um sentido à sua vida. Finque rastros de luz! Abra caminhos... Cumpra sua missão!

indexado

Menino de Engenho, 100ª edição


Texto e foto: blog SobreCapas

A Record divulgou recentemente o novo projeto gráfico para os livros de José Lins do Rego, a serem relançados pelo selo José Olympio Editora. O primeiro a sair é a edição comemorativa da 100ª edição de Menino de Engenho. O design é de Victor Burton e Allevato Botino.

sábado, 8 de maio de 2010

TEMPOS...EMOCIONAIS

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Como os tempos verbais são usados para indicar sentidos em geral atribuídos a outras formas da ação
João Jonas Veiga Sobral

Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Essa passagem bíblica, do Livro de Eclesiastes (3:1-8), é talvez a mais exata epígrafe para as várias possibilidades do uso semântico dos tempos verbais e os seus propósitos explícitos e implícitos.

Alguns tempos podem indicar valores e noções bem diversas das expressas nos tempos reais, e permitem que atinjamos com mais eficiência e clareza o propósito de dadas enunciações.

Tomemos outra passagem bíblica: a de mandamentos como "Não cobiçarás a mulher do próximo". O futuro do presente do indicativo normalmente é usado para indicar uma enunciação ou ação posterior ao momento da fala. Nos mandamentos foi usado com valor de imperativo em um tempo não específico - ou seja, a ordem serve para todo o sempre. Esse emprego sugere uma enunciação mais enfática e decisiva do que a sugerida no imperativo "Não cobices a mulher do próximo". O tom ameaçador e categórico da ordem se perde com o uso do imperativo, e a mensagem não é passada em toda sua essência ou intenção.

As situações comunicativas apresentam nuances sutis de intenção que ultrapassam a mera necessidade de marcar o tempo cronológico de uma dada enunciação ou ação. Elas exigem do falante algum jogo de cintura e clareza das circunstâncias que permeiam o ato da fala.

O uso semântico dos verbos é recurso indispensável para que o enunciador obtenha êxito comunicativo. Os casos destacados a seguir mostram tempos verbais usados para descrever ações que, a rigor, seriam da conta de outros tempos verbais - mas, mesmo assim, com isso revelam-se mais precisos e comunicativos.

João Jonas Veiga Sobral, professor de Língua Portuguesa da Escola Móbile.

O tempo da delicadeza

Quando o enunciador deseja expressar polidez ou casualidade num pedido ou mesmo numa ordem, não raro abre mão do imperativo, substituindo-o pelo presente do indicativo ou então pelo futuro do pretérito:
"Você traz um cafezinho pra mim, por favor." ou
"Você poderia trazer um cafezinho pra mim, por favor".
Com o pretérito imperfeito do indicativo, há a possibilidade de produzir o mesmo efeito e acentuar a informalidade:
"Você podia trazer um cafezinho para mim, por favor"
Esses usos semânticos tornam mais exato o efeito expressivo da mensagem e, principalmente, a intenção do falante. Além disso, o emprego desses tempos verbais gera no interlocutor uma resposta efetiva, além de permitir que a situação comunicativa se estabeleça de forma mais autêntica.


O tempo e seus propósitos

Há usos de tempos verbais reveladores mais de intenções do falante do que da definição de tempo. Ao escolher o presente do indicativo para indicar um fato futuro, tempo presente associado a certas expressões ou outros tempos verbais, o falante pode denotar o desejo real de concretizar a ação em um prazo curto e certo:

"À tarde eu lhe envio a correspondência"
Pode, ainda, denotar uma intenção escamoteada de que o fato possa não ocorrer:
"Assim que eu puder, eu lhe envio a correspondência".
Nos dois casos, o presente do indicativo é usado para expressar ação futura. Em outros casos, o presente do indicativo ou do subjuntivo pode não só indicar a intenção do falante como alterar o sentido de palavras da frase
ou do contexto:
"O presidente da CBF admite que Ronaldo volta para a seleção" ou
"O presidente da CBF admite que Ronaldo volte para a seleção".
A mera troca do modo verbal provoca leituras distintas do enunciado e, sobretudo, da acepção da formal verbal "admite". Na primeira construção, ela pode ser substituída sem dano ao sentido por "confirma"; já na segunda, pode ser trocada por "sugere". Mais do que o uso dos modos e dos tempos, as escolhas definem uma compreensão das entrelinhas e da ironia embutidas em tais enunciados.
A imprensa usa o presente do indicativo para indicar um evento no passado. Faz isso para aproximar o leitor do fato: "Time vence com facilidade e encosta no líder". O recurso, conhecido como presente histórico ou narrativo, é também comum em livros didáticos: "Em 1822, o Brasil proclama sua independência".


O tempo da ironia

Certos tempos verbais deslocados de seu sentido cronológico habitual são utilizados para expressar ironia explícita ou implícita.

Uma marchinha carnavalesca, por exemplo, usa desse expediente com graça e preconceito: "Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é, será que ele é?".

O futuro do presente do indicativo do verbo "ser", nesse contexto, sugere uma ação hipotética ou eventual, porém esconde a afirmação implícita sobre a orientação sexual do personagem da famosa canção. O enunciador não o afirma de forma escancarada, mas busca cumplicidade para que a resposta à pergunta se efetive.

Há muitas situações comunicativas nas quais produzimos mensagens semelhantes à do exemplo mencionado:
"Será o pobre caseiro o responsável por tudo?"
"Quem me ajudará a limpar os copos, Pedro?"
Questionamentos como esses trazem em si a resposta e também revelam ironia, uma vez que o modo indicativo, em geral, não se presta a indicar eventualidade ou suposição.

É possível, também, usar esse mesmo recurso valendo-se do futuro do pretérito:
"Estaríamos sendo justos?".

No entanto, as supostas dúvidas são logo desfeitas pelo interlocutor, que percebe com facilidade a intenção contida na mensagem que lhe foi repassada.


O tempo absoluto

Provérbios, axiomas e frases de efeito normalmente não apresentam um tempo específico, pois a enunciação traz noção atemporal, para além do momento da fala, e se estende a um tempo não marcado. São mensagens que passam ideia absoluta e indiscutível: "Quem com ferro fere com ferro será ferido". O falante, no fundo, não pretende prever o futuro. Sua intenção é proferir sentença categórica. O presente e o futuro usados no provérbio são atemporais, não apresentam as suas conotações usuais.

O sambista Cartola compôs O Mundo é um Moinho com esse recurso:
"Preste atenção, querida / embora eu saiba que estás resolvida / em cada esquina cai um pouco a tua vida / e em pouco tempo não serás mais o que és".

Aqui, a sentença categórica mostra ao interlocutor os perigos da atitude tomada e suas consequências. O pretérito perfeito também pode apresentar essa noção de atemporalidade:
"O homem do deserto aprendeu a viver em situações de extrema dificuldade".
A intenção da frase não é tratar de fato ocorrido no passado, mas mostrar uma verdade atemporal: a certeza de que o homem do deserto é capaz.


O tempo da informalidade

Uma famosa propaganda trazia como slogan uma correlação verbal comum na linguagem oral ou coloquial:
"Se eu fosse você, só usava Valisère".
Essa estrutura é típica na expressão informal e estabelece relação entre pretéritos. Certos gramáticos admitiriam só a versão "Se eu fosse você, só usaria Valisière".
O pretérito imperfeito do indicativo, em lugar do futuro do pretérito, confere ao enunciado informalidade e acentua o caráter hipotético estabelecido pelo imperfeito do subjuntivo "fosse".

No cotidiano usamos a estrutura informal quando desejamos acentuar a noção de suposição:
"Se ele tivesse me avisado, eu pedia silêncio."

O pretérito mais-que-perfeito também pode ser usado em situações hipotéticas, principalmente em frases optativas: "Quem dera ele voltasse."

Em situações cotidianas, o pretérito mais-que-perfeito é substituído pela sua forma composta:
"O fato tinha ocorrido nas imediações do município" (O fato
ocorrera...).

Caetano Veloso vai além e usa esse tempo verbal em substituição ao pretérito imperfeito do subjuntivo e ao futuro do pretérito do indicativo, respectivamente:
"Menos a conhecera mais amara". A correlação verbal habitual seria "Menos a conhecesse mais a amaria".

Aqui, Caetano opta por uma construção mais sofisticada e erudita.


Modos de viver o presente

TEMPO SEMÂNTICOO QUE EXPRESSAEXEMPLO
Presente (habitual)Ação habitual ou repetitiva
"Saio do trabalho às 18h."
Presente durativoAção que perdura depois da enunciação"Almoço das 12h às 13h."
Presente atemporalAção que não se localiza em um tempo específico"De grão em grão a galinha enche o papo."
Presente históricoIdeia de proximidade de um fato passado"Em 1492, Colombo chega à América."
Presente em substituição do futuroNoção de futuro próximo"Amanhã começo meu regime."
Presente em substituição do imperativoAbrandamento de uma ordem"Você compra o CD para mim , por favor?"

Em algum lugar do passado

TEMPO SEMÂNTICOO QUE EXPRESSAEXEMPLO
Pretérito imperfeito do indicativo (habitual)Ação habitual no passado
"João vendia balas quando criança."
Pretérito imperfeito do indicativo momentâneoAção passada que ocorreu num curto período"Eu fechava a porta e fui interrompido."
Pretérito imperfeito do indicativo como suposiçãoReforça a noção de hipótese quando atrelado ao imperfeito do subjuntivo "Se pudesse, vendia a casa imediatamente."
Pretérito imperfeito do indicativo em substituição ao imperativoSolicitação branda"Meu irmão queria que voltasse pra ele."
Pretérito perfeito pontualAção passada pontual e momentânea"Vi o filme há pouco."
Pretérito perfeito (habitual)Ação no passado que continuou por algum tempo"Eu morei por alguns anos em Portugal."
Pretérito perfeito universalAção que não se localiza em um tempo específico"O mulher não perdeu a esperança de conquistar mais espaços na vida pública."
Pretérito mais-que-perfeito do indicativo como futuro do pretérito e pretérito imperfeito do subjuntivoSugere sofisticação á enunciação"Mais servira se não fora para tão longo amor tão curta a vida" (ou "fosse"), de Camões.
Pretérito mais-que-perfeito como hipótesePossibilidade"Quisera eu que tudo corresse bem!"

De volta para o futuro

TEMPO SEMÂNTICOO QUE EXPRESSAEXEMPLO
Futuro do presente eventual ou momentâneoAção momentânea ou eventual no futuro
"Não seremos tolos em acreditar nisso?"
Futuro do presente em substituição ao imperativoOrdem categórica"Você ficará aqui em silêncio."
Futuro do presente absolutoVerdade definitiva"Quem viver verá."
Futuro do pretérito em substituição ao imperativoOrdem suave e branda"Você traria o guarda-sol, por favor?"
Futuro do pretérito pontual ou hipotéticoAção momentânea"Não estaríamos perdidos?"
Fonte: Revista Língua Portuguesa

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Onário disse e Ednardo Gadelha vivenciou

Piá é uma palavra originária do tupi-guarani significando, menino, índio jovem. Lá pras banda de Curitiba, usa-se com frequencia a expressão “piá de prédio” como sinônimo de garoto, moleque.

É um modo pejorativo para se referir a jovens que são criados em “pombais”, digo: condomínios fechados e são mimados pelos pais.

Confirma o amigo e revisor dos meus textos (crônicas e assemelhados), o prof. Ednardo Gadelha. Ele fez seu mestrado ( de Linguistica ) em “Floripa” Santa Catarina e teve oportunidade de sorver um pouco da cultura de lá...? (AS)

terça-feira, 4 de maio de 2010

Centenário de nascimento de Aurélio Buarque de Hollanda

100 anos de nascimento de Aurélio Buarque de Hollanda

Em 2010 comemora-se 100 anos de nascimento de Aurélio Buarque de Hollanda - que dá nome ao mais famoso dicionário do Brasil. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira nasceu em Passo de Camaragibe, Alagoas, em 3 de maio de 1910 e morreu no Rio de Janeiro, em 28 de fevereiro de 1989. Foi crítico literário, lexicógrafo, filólogo, professor, tradutor e ensaísta.

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