segunda-feira, 30 de julho de 2007

Olá, menina bonita e triste


Por Airton Soares

Olá menina bonita e triste. O que fizeram com você ou deixaram de fazer? Fique à vontade... Relaxe! Não, não me entenda mal. Relaxe... Pra desabafar, contar suas mágoas, mas fique aí encolhidinha do jeito que você está. É melhor assim.

Tem pra mim que não passei um nadinha de consistência nesse meu pedido. Bah! mudemos de assunto. Olhos verdes de caldo de cana... De engenho. Alguém já fez uma comparação dessas? Não, ninguém!

Lembro-me agora do Dr. Mendonça, um personagem do conto Miss Dollar do escritor brasileiro Machado de Assis. Ele, o doutor, se pelava de medo de todas as mulheres de olhos verdes. Imagine vendo você assim... Pelada! Segundo o médico, a cor verde é a cor do mar; sinal de tempestade! Daí evitar todas as mulheres de olhos verdes. Que coisa mais ridícula!

Machado, referindo-se ao médico, aconselha que o aceitemos com seus ridículos. "Quem não os tem?" E acrescenta: "O ridículo é uma espécie de lastro da alma quando ela entra no mar da vida; algumas fazem toda a navegação sem outra espécie de carregamento." No final da história dá tudo certo. Dr. Mendonça e Margarida... Leia o conto. Excelente! Aliás, quase tudo de Machado é Imperdível!

É... Moça bonita e triste, tenho de confessar a minha frustração. Como se protege! Como se tranca! Parece ostra. Não consegui arrancar de você sequer um pensar de sorriso, mas tentei. Desconfio de que você tem parentesco com a Monaliza. Tem?

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domingo, 29 de julho de 2007

Trocadilho

Charge: Diário Catarinense
Airton Soares

Jogo de palavras parecidas no som e diferentes no significado, e que dão margem a equívocos. Emprego de frase ambígua.

Trocadilhos :: `safra´ nossa 1. A vaidade vai com a idade? 2. Cada falso tem um cadafalso que merece 3. Solidão. Só lhe dão 4. De grão em grão a galinha... De grama em gramáTICA...
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Vem aí o nosso nobel

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Hélio Passos *

E não vai demorar. Vejam o pequenino Chile, já tem o dele desde 1971, Pablo Neruda; a Colômbia, um dos nossos quintais geográficos, desde 82, Gabriel Garcia Marques, com estupendos 100 anos de solidão. Ambos Nobel de Literatura.

Por que não o nosso Brasil gigante, dos aeroportos seguros, graças ao Waldir Pires, à Infraero, Anac e sobretudo ao governo do Lula, o presidente da graça do povo? Por que não o Ceará, por metro quadrado a maior fábrica de escritores do País, com lançamentos literários quase diários, anunciados entre adjetivos de deixarem enfurecidos um Flaubert, um Dumas Filho, um André Gidé, um Maupassant? Ah, já merecíamos o nosso Nobel.

A academia Sueca está bobeando. Somos a fina flor do texto capaz de superar os “idiotas da objetividade” do velho Nélson, na prosa e no verso. Vejam as folhas. Estão borbulhando de lançamentos literários, e nós há muitos anos passamos a ter mais escritores do que leitores. A pergunta que se ouve por aí: profissão? E a resposta: escritor.

O sujeito não deu pra nada ou deixou de ser alguma coisa, vira escritor, a única profissão do mundo que não tem patrão. Quando tem, é o dono do texto, comprado a cada vírgula, mal dando tempo de o autor escrever algumas graçolas, como fazia Dostoievski, cercado de credores sedentários e com hora marcada para entregar suas bobagens.

Em Fortaleza, impressiona o número de gente que escreve e que, pela adjetivação iluminada, bem já mereciam ter ganho o seu Nobelzinho. Eu sou impaciente e não vejo a hora de ler a manchete – escritor cearense conquista Nobel de Literatura com uma obra parente da prima. Depois da conquista anunciada, sem surpresa para ninguém, podemos mandar investigar se a pista da academia sueca não estava escorregadia.

É só uma precaução, antes de sair por aí anunciando algumas das maiores obras da literatura universal. Vejamos os lançamentos da semana. Quem sabe, quem sabe.

* Texto extraído do jornal Diário do Nordeste - coluna Em vez, do escritor e jornalista Hélio Passos. 29/07/2007.

01 Jogo do contente - Livro Poliana



Airton Soares

Aproveitando o `frete´da charge
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Pra vocês que acabam de chegar "no pedaço", ou seja, aos jovens iniciantes no mundo da leitura, este livro conta a história de uma menina cujo pai era pastor de uma igreja nos EUA. Certo dia, seus pais morrem e ela tem que viver com sua tia em outra cidade e pra jovem Poliana tudo que existe no mundo há um motivo para ficar contente. Eis o foco da narrativa.
Fonte da charge: jornal o Povo.

Entrevista com Autran Dourado 1/2

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Autran Dourado diz que escrever não dá prazer e é uma fatalidade

JULIÁN FUKS
Enviado especial da Folha de S.Paulo

Ao alto de um edifício antigo do Botafogo, numa rua outrora menos barulhenta do Rio de Janeiro, retirou-se Autran Dourado. Acorda cedo e já em horas primeiras beira prateleiras e estantes de seu apartamento à prazerosa procura por algum livro. Os pés trêmulos, as mãos trêmulas, o mal de Parkinson a afetar-lhe os movimentos, desvia-se de um e de outro objeto antigo, mineiros como seu dono. Hoje, na manhã que precede a tarde em que recebe a visita da Folha, opta por Edgar Allan Poe. Com Poe, nos espera.

Dourado aproxima-se da porta com a mesma lentidão com que, a partir da pequena cidade de Patos de Minas, onde nasceu, vem hoje aproximando-se dos 80 anos. Entre essas duas distantes e igualmente irrelevantes marcas no tempo, seu nascimento e esta entrevista, publicou, entre romances, contos e ensaios, 23 livros, alguns altamente prezados pela crítica, como "Ópera dos Mortos". Agora, até o fim do ano, verá todos eles reeditados pela Rocco, movimento que se iniciou pouco depois de ele ter recebido o Prêmio Camões de Literatura, em 2000. Em agosto, dois novos velhos títulos: "O Meu Mestre Imaginário" e "Violetas e Caracóis".

O prêmio o estimulou, sim. Ele não nega a honra de ter se alinhado a João Cabral de Melo Neto ou Antonio Candido. Mas Dourado, menos que entusiasmo, é pura resignação: em suas palavras, na voz igualmente trêmula, literatura e seus meandros convertem-se em acidente, em acaso. São pura fatalidade.

Entrevista com Autran Dourado 2/2


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Folha Online entrevista o escritor mineiro Autran Dourado

Folha - O senhor já disse que há um grupo de livros seus que pensa terem dado conta do recado. O que os dois que estão sendo relançados agora têm a acrescentar?

Autran Dourado - Sempre me perguntam, sobretudo quando vou a universidades, quais foram os autores que me influenciaram. Fiz "O Meu Mestre Imaginário" para não ter mais que responder a essa pergunta. Já estou quase com 80 anos, uma idade até vergonhosa de dizer, e em uma fase em que já selecionei meus autores. Leva-se a vida inteira selecionando os livros que se deve ler quando se está aposentado. Agora sei os livros que devo ler. E não tenho medo de clássicos. Os clássicos são necessários.

Folha - E o que seria o clássico?

Dourado - É aquele que, mesmo sem querer, inova. Alguém disse algum dia que ler Homero é chato. Mas a chatice não é uma qualidade literária para ser julgada.Folha - A erudição é necessária ao escritor?

Dourado - A erudição é acidental, embora seja uma coisa que se busque. Quando o autor está começando a escrever, não pode pensar em ninguém. Nem em outros autores nem em seu público, porque sequer consegue saber quem é seu público. O escritor é aquele solitário. Eu não sei qual é meu leitor e não me submeto à posição de procurá-lo. É por isso que vejo com certo escândalo o que está acontecendo no Brasil: pessoas jovens que se iniciam na literatura e querem logo vender livro. Têm vocação de best-seller. São fabricantes de livro, e o livro que você vê não resultou de nenhum esforço maior, não correu nenhum sangue por ele. Isso não é ser escritor. Vender livro é um acidente na vida de um escritor.

Folha - O senhor diz que o escritor é um solitário, e é impossível não pensar em seus personagens, que são também solitários, tomados de medo e angústia.

Dourado - Meus personagens se parecem muito comigo. Eu os conheço muito bem e sofro a angústia que eles sofrem. Não tenho nenhum prazer em escrever. Depois de pronta a obra, aí me dá uma certa satisfação, mas a mesma que dá quando se descarrega dos ombros um fardo pesado.

Folha - Se não dá prazer, então por que escrever?

Dourado - É também uma fatalidade. Você é destinado à literatura, e não a literatura a você. Escrever é uma imitação. A gente escreve feito um menino que vê o livro como um brinquedo e pensa "ah, eu quero um". Quando eu li pela primeira vez "Dom Casmurro", eu disse "puxa, eu quero o meu". Daí a necessidade que se tem de ler. Quando estou para escrever, gosto muito de ler um poema, Drummond, João Cabral. Não é o poema que eu vou fazer, mas acho que me prepara.

Folha - E que expectativa o senhor tem em relação à sua obra? Que inove sem que queira inovar?

Dourado - É exatamente isso. Não é propriamente um propósito, mas a idéia é transportar uma chama, que passa para outro e para outro. É um encadeamento de autores, de autores de uma mesma família literária. Mas eu vivi recentemente a experiência de reler minha própria obra, e me deu uma coisa quase como uma náusea. Me dá uma náusea pensar nessas perguntas todas. O que se deve procurar é escrever bem. E selecionar os poucos autores que se deve ler, que são os que aperfeiçoam o trato da linguagem. Porque literatura é linguagem carregada de sentido.

Folha - Os escritores são carapinas do nada?

Dourado - São carapinas do nada. Você citou aí um conto meu de que gosto muito: "Os Mínimos Carapinas do Nada". São os velhos que ficavam na janela de casa, esculpindo, tirando pequenas aparas de madeira, fazendo caracóis. Procurando o nada. Escreve-se para chegar ao nada. O enredo, por exemplo, é uma das coisas menos importantes no romance. É o artifício que o autor usa para prender o leitor, para engabelá-lo enquanto bate sua carteira.

Folha - E o que rouba?

Dourado - A emoção dele, sentir que ele está preso ao livro, que você o tem pela mão. E não que ele esteja com você na mão.

Folha - Escrever, então, é artifício, e não inspiração?

Dourado - Há na palavra inspiração uma certa traição. Eu prefiro "idéia súbita". Quando me vem uma idéia súbita, eu a cultivo até encontrar a forma do romance.

Folha - E sobre a possível morte do romance, que, depois das vanguardas, tanto se vaticina?

Dourado - Quando o Fernando Sabino foi passar uma temporada na Europa, ele voltou e me disse: "Você está perdendo seu tempo. O romance morreu". Eu disse: "Ô, Fernando, você está me dando uma notícia tristíssima. Porque eu acabei de deixar um romance na editora. Justo hoje você vem me comunicar a morte de um parente meu?". Não morreu. O europeu é que é muito preocupado com essas coisas.

Folha - E não vai morrer?

Dourado - Se vai morrer, eu não posso dizer, porque quem pode morrer antes sou eu.Folha - No momento, o senhor está escrevendo alguma coisa?

Dourado - Estou preparando um livro, mas nunca mostro antes de estar pronto. Mas estou escrevendo com muita dificuldade porque estou muito preocupado com aquilo que é permanente na literatura. Que é o valor literário, sobretudo os valores formais. É um peso que aumenta com o passar do tempo. O peso de já ter escrito.

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