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Hélio Passos *
E não vai demorar. Vejam o pequenino Chile, já tem o dele desde 1971, Pablo Neruda; a Colômbia, um dos nossos quintais geográficos, desde 82, Gabriel Garcia Marques, com estupendos 100 anos de solidão. Ambos Nobel de Literatura.
Por que não o nosso Brasil gigante, dos aeroportos seguros, graças ao Waldir Pires, à Infraero, Anac e sobretudo ao governo do Lula, o presidente da graça do povo? Por que não o Ceará, por metro quadrado a maior fábrica de escritores do País, com lançamentos literários quase diários, anunciados entre adjetivos de deixarem enfurecidos um Flaubert, um Dumas Filho, um André Gidé, um Maupassant? Ah, já merecíamos o nosso Nobel.
A academia Sueca está bobeando. Somos a fina flor do texto capaz de superar os “idiotas da objetividade” do velho Nélson, na prosa e no verso. Vejam as folhas. Estão borbulhando de lançamentos literários, e nós há muitos anos passamos a ter mais escritores do que leitores. A pergunta que se ouve por aí: profissão? E a resposta: escritor.
O sujeito não deu pra nada ou deixou de ser alguma coisa, vira escritor, a única profissão do mundo que não tem patrão. Quando tem, é o dono do texto, comprado a cada vírgula, mal dando tempo de o autor escrever algumas graçolas, como fazia Dostoievski, cercado de credores sedentários e com hora marcada para entregar suas bobagens.
Em Fortaleza, impressiona o número de gente que escreve e que, pela adjetivação iluminada, bem já mereciam ter ganho o seu Nobelzinho. Eu sou impaciente e não vejo a hora de ler a manchete – escritor cearense conquista Nobel de Literatura com uma obra parente da prima. Depois da conquista anunciada, sem surpresa para ninguém, podemos mandar investigar se a pista da academia sueca não estava escorregadia.
É só uma precaução, antes de sair por aí anunciando algumas das maiores obras da literatura universal. Vejamos os lançamentos da semana. Quem sabe, quem sabe.
* Texto extraído do jornal Diário do Nordeste - coluna Em vez, do escritor e jornalista Hélio Passos. 29/07/2007.
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