domingo, 29 de julho de 2007

Entrevista com Autran Dourado 1/2

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Autran Dourado diz que escrever não dá prazer e é uma fatalidade

JULIÁN FUKS
Enviado especial da Folha de S.Paulo

Ao alto de um edifício antigo do Botafogo, numa rua outrora menos barulhenta do Rio de Janeiro, retirou-se Autran Dourado. Acorda cedo e já em horas primeiras beira prateleiras e estantes de seu apartamento à prazerosa procura por algum livro. Os pés trêmulos, as mãos trêmulas, o mal de Parkinson a afetar-lhe os movimentos, desvia-se de um e de outro objeto antigo, mineiros como seu dono. Hoje, na manhã que precede a tarde em que recebe a visita da Folha, opta por Edgar Allan Poe. Com Poe, nos espera.

Dourado aproxima-se da porta com a mesma lentidão com que, a partir da pequena cidade de Patos de Minas, onde nasceu, vem hoje aproximando-se dos 80 anos. Entre essas duas distantes e igualmente irrelevantes marcas no tempo, seu nascimento e esta entrevista, publicou, entre romances, contos e ensaios, 23 livros, alguns altamente prezados pela crítica, como "Ópera dos Mortos". Agora, até o fim do ano, verá todos eles reeditados pela Rocco, movimento que se iniciou pouco depois de ele ter recebido o Prêmio Camões de Literatura, em 2000. Em agosto, dois novos velhos títulos: "O Meu Mestre Imaginário" e "Violetas e Caracóis".

O prêmio o estimulou, sim. Ele não nega a honra de ter se alinhado a João Cabral de Melo Neto ou Antonio Candido. Mas Dourado, menos que entusiasmo, é pura resignação: em suas palavras, na voz igualmente trêmula, literatura e seus meandros convertem-se em acidente, em acaso. São pura fatalidade.

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