quarta-feira, 25 de agosto de 2010

PRONOME DE TRATAMENTO

Ano 11 - nº 513 - 25/08/2010 -
VOSSA SENHORIA

O pronome de tratamento formal entre iguais numa correspondência continua sendo Vossa Senhoria (V. Sa.).

Embora se usem como vocativo de abertura as expressões Prezado(a) Senhor(a) ou Caro(a) Senhor(a), não se emprega o pronome senhor(a) no corpo da correspondência.

Vale lembrar que, com Vossa Senhoria, o verbo vai para a terceira pessoa do singular (ele/ela), e nunca para a segunda do plural (vós)! Além disso, os adjetivos devem ser flexionados de acordo com o sexo do destinatário, como neste exemplo: “Dr. Márcio, sabemos que Vossa Senhoria é um dedicado profissional”.


Consultexto: sempre com grandes amigos

sábado, 21 de agosto de 2010

AULA DE PORTUGUÊS

AULA DE PORTUGUÊS


1 - "Custas só se usa na linguagem jurídica" para designar despesas feitas no processo. Portanto, devemos dizer: "O filho vive à custa do pai". No singular.

2 -
Não existe a expressão "à medida em que". Ou se usa à medida que correspondente a à proporção que, ou se usa na medida em que equivalente a tendo em vista que.

3 - 'O certo é "
a meu ver" e não ao meu ver.

4
- "A princípio" significa inicialmente, "antes de mais nada": Ex: A princípio, gostaria de dizer que estou bem. "Em princípio" quer dizer "em tese". Ex: Em princípio, todos concordaram com minha sugestão.

5 - "
À-toa", (com hífen), é um adjetivo e significa "inútil", "desprezível". Ex: Esse rapaz é um sujeito à-toa. "À toa", (sem hífen), é uma locução adverbial e quer dizer "a esmo", "inutilmente". Ex: Andava à toa na vida.

6 - Com a conjunção se
, deve-se utilizar acaso, e nunca caso. O certo: "Se acaso vir meu amigo por aí, diga-lhe..." Mas podemos dizer: "Caso o veja por aí...".

7 -
'Acerca de' quer dizer 'a respeito de'. Veja: Falei com ele acerca de um problema matemático. Mas há cerca de é uma expressão em que o verbo haver indica tempo transcorrido, equivalente a faz. Veja: Há cerca de um mês que não a vejo.

8 - Não esqueça:
alface é substantivo feminino. A Alface está bem verdinha.

9 -
Além pede sempre o hífen: 'além-mar', 'além-fronteiras', etc.

10 -
Algures é um advérbio de lugar e quer dizer 'em algum lugar'. Já alhures significa 'em outro lugar'.

11 -
Mantenha o timbre fechado do o no plural dessas palavras: 'almoços', 'bolsos', 'estojos', 'esposos', 'sogros', 'polvos', etc.

12 - O certo é
'alto-falante', e não auto-falante.

13
- O certo é 'alugam-se casas', e não aluga-se casas. Mas devemos dizer precisa-se de empregados, trata-se de problemas. Observe a presença da preposição (de) após o verbo. É a dica pra não errar.

14 -
Depois de ditongo, geralmente se emprega x. Veja: 'afrouxar', 'encaixe', 'feixe', 'baixa', 'faixa', 'frouxo', 'rouxinol', 'trouxa', 'peixe', etc.

15 -
Ancião tem três plurais: 'anciãos', 'anciães', 'anciões'.

16 - Só use ao '
invés de' para significar 'ao contrário de', ou seja, 'com idéia de oposição'. Veja: Ela gosta de usar preto ao invés de branco. Ao invés de chorar, ela sorriu. Em vez de quer dizer em lugar de. Não tem necessariamente a idéia de oposição. Veja: Em vez de estudar, ela foi brincar com as colegas. (Estudar não é antônimo de brincar).

17 - Ainda se vê e se ouve muito
aterrisar em lugar de aterrissar, com dois s. 'Escreva sempre com o s dobrado'.

18 -
'Não existe preço barato ou preço caro'. Só existe preço alto ou baixo. 'O produto, sim, é que pode ser caro ou barato'. Veja: Esse televisor é muito caro. O preço desse televisor é alto.

19 - Ainda se vê muito, principalmente na entrada das cidades, a expressão bem vindo (sem hífen) e até benvindo.
As duas estão erradas. Deve-se escrever 'bem-vindo', sempre com hífen.

20 - Atenção:
'nunca empregue hífen depois de bi, tri, tetra, penta, hexa, etc'. O nome fica sempre coladinho. O Sport se tornou tetracampeão no ano 2000. O Náutico foi hexacampeão em 1968. O Brasil foi bicampeão em 1962.

21 - Veja bem:
'uma revista bimensal é publicada duas vezes ao mês', ou seja, 'de 15 em 15 dias'. 'A revista bimestral só sai nas bancas de dois em dois meses'. Percebeu a diferença?

22 - Hoje, tanto se diz
'boêmia' como 'boemia'. Nelson Gonçalves consagrou a segunda, com a tonacidade no mia.

23 - Cuidado:
'Eu caibo' dentro daquela caixa. A primeira pessoa do presente do indicativo assim se escreve porque o verbo é irregular.

24 - Preste atenção:
'o senador Luiz Estêvão foi cassado'. Mas 'o leão foi caçado' e nunca foi achado. Portanto, 'cassar' (com dois s) quer dizer tornar nulo, sem efeito.

25 - Existem palavras que
'só devem ser empregadas no plural'. Veja: os óculos, as núpcias, as olheiras, os parabéns, os pêsames, as primícias, os víveres, os afazeres, os anais, os arredores, os escombros, as fezes, as hemorróidas, etc.

26 - Pouca gente tem coragem de usar, mas
o plural de caráter é 'caracteres'. Então, Carlos pode ser um bom-caráter, mas os dois irmãos dele são dois maus-caracteres.

27 -
'Cartão de crédito e cartão de visita não pedem hífen'. 'cartão-postal exige o tracinho'.

28 -
'Catequese se escreve com s', mas 'catequizar é com z'. Esse português...

29 - O exemplo acima foge de uma regrinha que diz o seguinte: os verbos derivados de palavras primitivas grafadas com s formam-se com o acréscimo do sufixo -ar: análise-analisar, pesquisa-pesquisar, aviso-avisar, paralisia-paralisar, etc.


30 -
'Censo é de recenseamento'; 'senso refere-se a juízo'. Veja: O censo deste ano deve ser feito com senso crítico.

31 -
'Você não bebe a champanhe. Bebe o champanhe'. É, portanto, palavra masculina.

32 -
'Cidadão só tem um plural: cidadãos'.

33 -
Cincoenta não existe. 'Escreva sempre cinquenta'.

34 -
Ainda tem gente que erra quando vai falar gratuito e dá tonicidade ao i, como de fosse gratuíto. 'O certo é gratuito', da mesma forma que pronunciamos intuito, circuito, fortuito, etc.

35 - E ainda tem gente que teima em dizer
rúbrica, em vez de rubrica, com a sílaba bri mais forte que as outras. 'Escreva e diga sempre rubrica'.

36 -
'Ninguém diz eu coloro esse desenho'. Dói no ouvido. Portanto, o verbo colorir é defectivo (defeituoso) e não aceita a conjugação da primeira pessoa do singular do presente do indicativo. 'A mesma coisa é o verbo abolir'. Ninguém é doido de dizer eu abulo. Pra dar um jeitinho, diga: Eu vou colorir esse desenho. Eu vou abolir esse preconceito.

37 -
'Outro verbo danado é computar'. Não podemos conjugar as três primeiras pessoas: eu computo, tu computas, ele computa. A gente vai entender outra coisa, não é mesmo? Então, para evitar esses palavrões, decidiu-se pela proibição da conjugação nessas pessoas. Mas se conjugam as outras três do plural: computamos, computais, computam.

38 - Outra vez atenção:
os verbos terminados em -uar fazem a segunda e a terceira pessoa do singular do presente do indicativo e a terceira pessoa do imperativo afirmativo em -e e não em -i. Observe: Eu quero que ele continue assim. Efetue essas contas, por favor. Menino, continue onde estava.

39 - A propósito do item anterior, devemos lembrar que os verbos terminados em -
uir devem ser escritos naqueles tempos com -i, e não -e. Veja: Ele possui muitos bens. Ela me inclui entre seus amigos de confiança. Isso influi bastante nas minhas decisões. Aquilo não contribui em nada com o progresso.

40 -
'Coser significa costurar'. 'Cozer significa cozinhar'.

41 -
'O correto é dizer deputado por São Paulo', 'senador por Pernambuco', e não deputado de São Paulo e senador de Pernambuco.

42 -
'Descriminar' é absolver de crime, inocentar. 'Discriminar' é distinguir, separar. Então dizemos: Alguns políticos querem descriminar o aborto. Não devemos discriminar os pobres.

43 -
'Dia a dia (sem hífen) é uma expressão adverbial que quer dizer todos os dias, dia após dia'. Por exemplo: Dia a dia minha saudade vai crescendo. Enquanto que 'dia-a-dia (com hífen) é um substantivo que significa cotidiano' e admite o artigo: O dia-a-dia dessa gente rica deve ser um tédio.
44 - 'A pronúncia certa é disenteria', e não desinteria.
45 - A palavra 'dó (pena) é masculina'. Portanto, 'Sentimos muito dó daquela moça'.

46 -
'Nas expressões é muito, é pouco, é suficiente, o verbo ser fica sempre no singular', sobretudo quando denota quantidade, distância, peso. Ex: Dez quilos é muito. Dez reais é pouco. Dois gramas é suficiente.

47 - 'Há duas formas de dizer':
é proibido entrada, e é proibida a entrada. Observe a presença do artigo a na segunda locução.

48 - Já se disse muitas vezes, mas vale repetir:
'televisão em cores', e não a cores.

49 - Cuidado:
'emergir é vir à tona', vir à superfície. Por exemplo: O monstro emergiu do lago. Mas 'imergir é o contrário': é mergulhar, afundar. Veja o exemplo: O navio imergiu em alto-mar.

50 - A confusão é grande, mas 'se admitem as três grafias'
: 'enfarte, enfarto e infarto'.

51 - Outra dúvida:
nunca devemos dizer estadia em lugar de estada. Portanto, a minha estada em São Paulo durou dois dias. Mas a estadia do navio em Santos só demorou um dia. Portanto, 'estada para permanência de pessoas, e estadia para navios ou veículos'.

52 - E não esqueça
: 'exceção é com ç', mas 'excesso é com dois ss'.

53 - Lembra-se dos
'verbos defectivos'? Lá vai mais um: 'falir'. No presente do indicativo só apresenta a primeira e a segunda pessoa do plural: nós falimos, vós falis. Já pensou em conjugá-lo assim: eu falo, tu fales...Horrível, não?

54 - Todas as expressões adverbiais formadas por
'palavras repetidas dispensam a crase': 'frente a frente', 'cara a cara', 'gota a gota', 'face a face', etc.

55 - Outra vez tome cuidado. Quando for ao supermercado,
'peça duzentos ou trezentos gramas' de presunto, 'e não duzentas ou trezentas'. Quando significa unidade de massa, grama é substantivo masculino. 'Se for a relva, aí sim, é feminino': não pise na grama; a grama está bem crescida.

56 - É frequente se ouvir no rádio ou na TV os entrevistados dizerem: Há muitos
'anos atrás...' Talvez nem saibam que estão construindo uma frase redundante. Afinal, há já dá idéia de passado. Ou se diz simplesmente 'há muito anos...' ou 'muitos anos atrás...' Escolha. Mas não junte o há com atrás.

57 - Cuidado nessa arapuca do português: as palavras paroxítonas terminadas em -n recebem acento gráfico, mas as terminadas em -ns não recebem:
'hífen', 'hifens'; 'pólen', 'polens'.

58 - Atenção:
'Ele interveio' na discórdia, 'e não interviu'. Afinal, 'o verbo é intervir, derivado de vir'.

59 - '
Item não leva acento'. Nem seu plural itens.

60 -
O certo é 'a libido', feminino. Devo dizer: 'Minha libido' hoje não tá legal.

61 - Todo mundo gosta de dizer '
magérrima', 'magríssima', mas o superlativo de magro é 'macérrimo'.

62 - Antes de particípios
não devemos usar melhor nem pior. Portanto, devemos dizer: os alunos mais bem preparados são os do 2o grau. E nunca: os alunos melhor preparados...

63 - Essa história de
'mal com l', e 'mau com u', até já cansou: É só decorar: 'Mal' é antônimo de bem, e 'mau' é antônomo de bom. É só substituir uma por outra nas frases para tirar a dúvida.

64 - Pronuncie
'máximo', como se houvesse dois ss no lugar do x. (mássimo)

65 - Toda vez que disser:
'É meio-dia e meio você estará errando. 'O certo é: meio-dia e meia', ou seja, meio-dia e meia hora.

66 - Não tenho 'nada a ver' com isso, e 'não haver' com isso.

67 -
'Nem um nem outro' leva o verbo para o singular: Nem um nem outro conseguiu cumprir o que prometeu.

68 - Toda vez que usar o '
verbo gostar' tenha cuidado com a ligação que ele tem com a preposição de. Ex: a coisa de que mais gosto é passear no parque. A pessoa de que mais gosto é minha mãe.

69 - Lembre-se:
'pára', com acento, é do verbo parar, e 'para', sem acento, é a preposição. Portanto: Ele não pára de repetir para o amigo que tem um carro novo.

70 - E tem mais: '
pelo', (sem acento), é preposição (contração da preposição por com o artigo a) e pêlo, com acento, é o cabelo.

71 - E quer mais? '
Pêra', a fruta, leva acento, só para diferenciar de uma antiga preposição também chamada 'pera'. Já o plural dispensa o acento: 'peras'. Dá pra entender? O jeito é decorar.

72 - Ainda tem mais uma palavra com acento diferencial:
'pôde', terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do verbo poder. É para diferenciar de 'pode', a forma do presente. Então dizemos: Ele até que pôde fazer tudo aquilo, mas hoje não pode mais. Percebeu a diferença?

73 - '
Pôr só leva acento quando é verbo': "Quero pôr tudo no seu devido lugar". Mas 'se for preposição, não leva acento': Por qualquer coisa, ele se contenta.

74 - Fique atento:
nunca diga, nem escreva 1 de abril, 1 de maio. Mas sempre: 'primeiro de abril', 'primeiro de maio'. Prevalece o ordinal.

75 - É chato, pedante ou parece ser errado dizer
quando eu 'vir' Maria, darei o recado a ela. Mas esse é o emprego correto do 'verbo ver' no futuro do subjuntivo. Se eu o vir, quando eu o vir. Mas quando é o verbo vir que está na jogada, a coisa muda: quando eu 'vier', se eu 'vier'.

76 - Só use
'quantia' para somas em dinheiro. Para o resto, pode usar 'quantidade'. Veja: Recebi a quantia de 20 mil reais. Era grande a quantidade de animais no meio da pista.

77 - O prefixo
'recém' sempre se separa por hífen da palavra seguinte e deve ser pronunciado como oxítona: recém-chegado de Londres.

78 - Não esqueça:
'retificar é corrigir', e 'ratificar é comprovar, reafirmar': "Eu ratifico o que disse e retifico meus erros.

79 - Quando disser
'ruim', diga como se a sílaba mais forte fosse - im. Não tem cabimento outra pronúncia.

80 - Fique atento: só empregamos
'São' antes de nomes que começam por consoante: 'São Mateus', 'São João', 'São Tomé', etc. Se o nome começa por vogal ou h, empregamos 'Santo: 'Santo Antônio', 'Santo Henrique', etc.

81 - E lembre-se:
'seção, com ç', quer dizer 'parte de um todo, departamento': a seção eleitoral, a seção de esportes. Já 'sessão, com dois ss', significa intervalo de tempo que dura uma reunião, uma assembléia, um acontecimento qualquer: 'A sessão do cinema demorou muito tempo'.

82 - Não confunda:
'senão', (juntinho), quer dizer"caso contrário" e 'se não', (separado), equivale a "se por acaso não". Veja: Chegue cedo, senão eu vou embora. Se não chegar cedo, eu vou embora. Percebeu a diferença?

83 - Tire esta dúvida: quando '
' é adjetivo equivale a sozinho e varia em número, ou seja, pode ir para o plural. Mas 'só' como advérbio, quer dizer somente. Aí não se mexe. Veja: Brigaram e agora vivem sós (sozinhos). Só (somente) um bom diálogo os trará de volta.

84 - É comum vermos no rádio e na tv o entrevistado dizer: O que nos falta são '
subzídios'. Quer dizer, fala com a pronúncia do z. Mas não é: pronuncia-se 'ss'. Portanto, escreva 'subsídio' e pronuncie 'subssídio'.

85 -
'Taxar' quer dizer 'tributar', 'fixar preço'. 'Tachar' é 'atribuir defeito', 'acusar.

86 - E
nunca diga: 'Eu torço para o Flamengo'. Quem torce de verdade, 'torce pelo Flamengo'.

87 - Todo mundo tem dúvida, mas preste atenção: 50% dos estudantes passaram nos testes finais. Somente 1% terá condições de pagar a mensalidade. Acreditamos que 20% do eleitorado se abstenha de votar nas próximas eleições. Mais exemplos: 10% estão aptos a votar, mas 1% deles preferem fugir das urnas. Quer dizer, concorde com o mais próximo e saiba que essa regra é bastante flexível.


88 - '
Um dos que' deixa dúvidas,mas, pela norma culta, devemos pluralizar. Há gramáticos que aceitam o emprego do singular depois dessa expressão: Eu sou um dos que foram admitidos. Sandra é uma das que ouvem rádio.

89 -
'Veado' se escreve com e, e não com I.

90 - Esse português da gente tem cada uma:
'tem viagem com G e viajem com J' . Tire a dúvida: viagem é o substantivo: A viagem foi boa. Viajem é o verbo: Caso vocês viajem, levem tudo.

91 -
O prefixo 'vice' sempre se separa por hífen da palavra seguinte: vice-prefeito, vice-governador, vice-reitor, vice-presidente, vice-diretor, etc.

92 - Geralmente, se usa o
'x depois da sílaba inicial en': enxaguar, enxame, enxergar, enxaqueca, enxofre, enxada, enxoval, enxugar, etc. Mas cuidado com as exceções: encher e seus derivados (enchimento, enchente, enchido, preencher, etc) e quando -en se junta a um radical iniciado por ch: encharcar (de charco), enchumaçar (de chumaço), enchiqueirar (de chiqueiro), etc.

93 - Não adianta teimar:
'chuchu' se escreve mesmo é com 'ch'.

94 -
'Ciclo vicioso' não existe. O correto é 'círculo vicioso'.

95 - E qual a diferença entre
'achar' e 'encontrar'? Use 'achar' para definir aquilo que se procura, e 'encontrar' para aquilo que, sem intenção nenhuma, se apresenta à pessoa. Veja: Achei finalmente o que procurava. Maria encontrou uma corda debaixo da cama. Jorge achou o gato dele que fugiu na semana passada.

96 -
'Adentro' é uma palavra só: meteu-se porta adentro. A lua sumiu noite adentro.

97 - Não existe
'adiar para depois'. Isso é redundante, porque adiar só pode ser para depois.

98 -
'Afim' (juntinho) tem relação com afinidade: gostos afins, palavras afins. 'A fim de' (separado) equivale a para: veio logo a fim de me ver bem vestido.

99 - Pode parecer meio estranho, mas pode conjugar o
'verbo aguar' normalmente: eu águo, tu águas, ele água, nós aguamos, vós aguais, eles águam.

100 -
'Centigrama' é uma palavra masculina: dois centigramas.

Charge - Lula vai tomar todas

O HUMOR NOSSO DE CADA DIA


sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Quando fico sabendo de uma história de sucesso, não raro, fico com raiva, muita raiva. É que

Se eles podem…

Quando fico sabendo de uma história de sucesso, não raro, fico com raiva, muita raiva. É que esse tipo de sucesso que me irrita resulta de velhas e constrangedoras verdades. Verdades que, todavia, são contestadas por paspalhos das desídias existenciais. Ah, que frase é essa, melhor é dizer paspalhos do fracasso, das mediocridades dominantes.

Acabo de ler sobre uma escola “pública” de Porto Alegre que tornou-se um formidável caso de sucesso. Razão do sucesso? Uma drástica aplicação de códigos disciplinares e de honrosas e públicas premiações aos bons alunos. Em outras palavras, nessa escola bom aluno é cortejado, aplaudido, estimulado, ganha prêmios. Isso mesmo, ganha prêmios.

Acaso não será isso andar na contramão dos obtusos que pregam a pedagogia do amor, que não é outra coisa senão que igualar os desiguais? Tratar bons alunos e vadios por iguais é crime, castigo contra os bons. Nessa escola, isso desapareceu.

O nome do colégio é Instituto Paulo da Gama. Nele, quando um aluno falta, a família é procurada, por que faltou, onde estava, o que aconteceu? Ah, isso faz com que os “matões” de aula pensem duas vezes antes da gazeta…

A taxa de abandono escolar, em três anos, caiu de 36% para 12%, não é notável? Bons alunos, notas elevadas, ganham entradas para teatro, cinema, passeios. E se o aluno morar longe, tiver sérias dificuldades econômicas de família, ganha vale-transporte. E a disciplina é magnífica.

Ninguém usa boné em sala de aula. Bonés possibilitam que um safado se esconda debaixo da aba depois de uma pilhéria… ou faça caras e bocas na dissimulada bagunça. Ah, e ninguém usa óculos escuros em sala de aula, não se trata de óculos de míopes, mas daqueles óculos espelhados que otários metidos a sebo costumam usar aqui entre nós… Nada disso é tolerado.

E tem funcionado, bah, tudo funciona, as famílias, os pais, estão gostando, os alunos não reclamam e a escola vai de vento em popa. Tão fácil. Por que não se generaliza esse tipo de postura administrativa nas escolas? Por covardia, medos dos diretores, não ousam, temem perder o cargo, não se comprometem, apenas vão e voltam da escola…

Cumprimentos à direção do Instituto Estadual de Educação Paulo da Gama, um exemplo para o Brasil.

Não confunda "iminente" com "eminente"

Não confunda "iminente" com "eminente"

Por Thaís Nicoleti

“Os sites de compras coletivas funcionam devido ao efeito psicológico da escassez eminente.”

A língua portuguesa é pródiga em palavras de forma parecida, mas de significados diferentes, os chamados parônimos. Não é preciso dizer que a confusão entre eles é bastante comum.

No fragmento acima, foi usado “eminente” no lugar de “iminente”. Muito bem. A diferença entre os dois é muito grande. “Eminente” é um adjetivo que quer dizer “alto”, “elevado” (torre eminente, lugar eminente) ou, no sentido figurado, “importante”, “excelente”, “superior” (eminente professor, eminente deputado). É comum que, no emprego conotativo, o adjetivo apareça antes do substantivo, embora isso não seja obrigatório.

“Eminente” é cognato de “eminência”, substantivo que designa a qualidade daquilo que é eminente – é mais ou menos a mesma coisa que “proeminência” (no sentido figurado, “eminência” é superioridade moral e/ou intelectual). O termo também aparece na expressão “eminência parda”, com a qual nos referimos a uma pessoa muito influente, sobretudo na vida política, mas que permanece anônima, evitando mostrar-se ou agir às claras. A palavra aparece ainda no tratamento de cardeais (Vossa Eminência, Sua Eminência).

Já “iminente” é o que está prestes a acontecer. Normalmente se usa em contextos em que ocorra algum tipo de ameaça (“perigo iminente”, “risco iminente” ou mesmo “escassez iminente”, como queria o autor do texto destacado).

É comum a substituição da letra “i” pela letra “e” num comportamento conhecido como hipercorreção ou ultracorreção, que consiste em tomar por errado o que está certo. Não é à toa que são comuns impropriedades como “previlégio” no lugar do correto “privilégio” ou “entitulado” no lugar do correto “intitulado”, entre muitos outros casos.

Abaixo, o fragmento corrigido:

Os sites de compras coletivas funcionam devido ao efeito psicológico da escassez iminente.

Ortografia - maciçamente

"Massive" traduz-se por "maciço"

Por Thaís Nicoleti

“Depoimentos e cenas em que ela e Lula surgirão juntos massivamente aos olhos e ouvidos do público poderão arrebanhar os votos de que ela precisa para vencer no primeiro turno.”

Não existe em português o advérbio “massivamente”, tampouco o adjetivo “massivo”. O que temos, em português, é “maciço” e “maciçamente”. A confusão nasce da grande quantidade de termos do inglês que têm cognatos em português.

Também é sabido, todavia, que há no inglês muitos “falsos cognatos”, grandes inimigos dos tradutores. O caso do termo “massive” (do inglês), porém, nem é exatamente de falsa cognação. Figura entre os casos de invenção de palavra decalcada do inglês por desconhecimento do termo vernáculo. Assemelha-se, nesse sentido, ao caso da palavra “customizar”, que vem tentando ocupar o lugar de “personalizar”.

Em bom português, empregamos “personalizar” (em vez do tal “customizar”) e “maciço”, “compacto”, “em grande número”, “forte” ou “enorme” (em vez de “massivo”). Veja, abaixo, o texto corrigido:

Depoimentos e cenas em que ela e Lula surgirão juntos maciçamente aos olhos e ouvidos do público poderão arrebanhar os votos de que ela precisa para vencer no primeiro turno.

fonte: UOL - Educação

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

“Largar o cigarro é como perder o pai”As estranhas relações que os fumantes estabelecem com o vício

 Reprodução
CRISTIANE SEGATTO
cristianes@edglobo.com.br
Repórter especial, faz parte da equipe de ÉPOCA desde o lançamento da revista, em 1998. Escreve sobre medicina há 14 anos e ganhou mais de 10 prêmios nacionais de jornalismo

Na semana passada, escrevi nesta coluna sobre a luta dos fumantes que decidiram abandonar o cigarro por causa da lei antifumo paulista. Além de proteger os não-fumantes, a proibição do fumo em locais fechados tem produzido um outro efeito positivo: ela estimula os fumantes a buscar tratamento. A procura aumentou 50% no Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), da Secretaria Estadual de Saúde, na capital paulista.

Para conhecer as dificuldades e as vitórias dos fumantes que a lei conseguiu encaminhar para o tratamento, decidi acompanhar as próximas semanas da funcionária pública Ana Rita Conde Lopes Guida, 56 anos. Ana fuma desde os 11 anos. Nunca antes havia tentado parar. Quando a lei entrou em vigor, ela decidiu se inscrever no Cratod.

Conversei com Ana na quinta-feira (17) para saber como havia passado a semana. A primeira coisa que me disse foi: “Vacilei”. Na quarta e última reunião realizada com seu grupo de fumantes no Cratod, Ana ainda não havia conseguido parar. Diz que está fumando quatro cigarros por dia. Usa adesivo de nicotina e antidepressivo.

Tenta enganar a vontade de fumar com o “kit fissura” distribuído pela nutricionista do Cratod. O kit é um saquinho transparente que acomoda vários ingredientes: uva passa, casca de laranja assada, cravo, damasco seco, canela em pau. A nutricionista recomenda que o fumante coloque uma dessas coisas na boca quando a vontade de fumar reaparece. Deve mascá-la bem devagarzinho na tentativa de se distrair e esquecer do cigarro.

Ana seguiu a dica. Ainda não foi suficiente. Na tentativa de enganar a vontade de fumar, adotou um estranho recurso. “Quebrei um lápis ao meio e finjo que estou fumando”, diz.

Para quem não fuma, esse comportamento pode parecer irracional, humilhante. Para quem enfrenta o vício, no entanto, qualquer recurso capaz de postegar a próxima tragada vale a pena.

Muitos leitores comentaram o texto da semana passada. Postaram depoimentos pessoais e dicas para quem pretende se livrar do cigarro. Agradeço a todos pela atenção e pelas valiosas contribuições. Alguns desses comentários revelam a profunda relação emocional que os fumantes criam com o vício:

“Parece que o cigarro é meu amigo, me conforta. Sei que é ridículo, mas é assim que sinto.”
Luzia do Rego Leite
“O cigarro sempre foi meu companheiro de baladas, farras e de momentos ruins também.”
Adriane Carrara
“Gostava da sensação que o cigarro me trazia. Um certo conforto nas horas de solidão ou tristeza. Era uma companhia que me satisfazia.”
Valéria Freitas

Depoimentos como esses também chamaram a atenção da psicóloga Ivone Maria Charran, quando ela começou a atender tabagistas no Cratod. Ivone já tinha uma longa experiência com usuários de outras drogas, como cocaína e crack (trabalha com essas pessoas há 19 anos). Nunca, porém, tinha ouvido relatos sentimentais em relação à droga do jeito como ela ouviu dos fumantes.

“A forma como eles se referem ao cigarro sempre me intrigou”, diz Ivone. “Eles estabelecem uma cumplicidade tão grande que chegam a colocar atributos humanos no cigarro”, afirma.

Ivone produziu uma monografia com base numa pesquisa qualitativa realizada com cinco fumantes do Cratod. Algumas das frases que ela ouviu:

“O cigarro é um amigo, um namorado. É até um marido.”

“O cigarro me completa. Ameniza a solidão.”

“Largar o cigarro é como perder o pai.”

O que você acha dessa última frase? É um exagero? Uma afirmação completamente descabida? Uma comparação impossível? Para muitos dos dependentes de nicotina que tentam se livrar do vício, ela é verdadeira. Sem o cigarro, eles experimentam um luto profundo.

Não basta, portanto, tratar a dependência física provocada pela nicotina. É preciso, também, romper a dependência psicológica. “Quebrar essa relação de cumplicidade com o cigarro é o mais difícil”, diz Ivone.

Conheci no início desse ano uma mulher que passou a vida inteira livre do fumo. Depois dos 70 anos, estabeleceu uma triste parceria com o cigarro. Lembrei-me dela enquanto conversava com Ivone.

Quem procura um programa antitabagismo, acha que vai apenas parar de fumar. A mudança precisa ser mais radical. “A pessoa precisa rever a vida, se conhecer sem cigarro”, diz Ivone. “Muitas vezes, ela se estranha”.

Conheço pessoas que conseguiram parar de fumar por conta própria. Tomaram a decisão estimuladas pelos filhos pequenos, por um problema de saúde, por extrema força de vontade. Na maioria dos casos, porém, é muito difícil vencer a dependência psicológica sem contar com apoio profissional. Se concluir que precisa de ajuda, não tenha vergonha de procurá-la. O vício não é sinal de fraqueza. É o resultado da histórica tolerância social em relação a uma droga poderosa. Confira abaixo os estragos que o cigarro provoca no nosso corpo. Vale a pena relembrar e espalhar.

Ervas medicinais: os conselhos de Drauzio Varella O médico fala sobre sua nova série no Fantástico, 'É bom pra quê?', que estreia no dia 29

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CRISTIANE SEGATTO
 Reprodução

Repórter especial, faz parte da equipe de ÉPOCA desde o lançamento da revista, em 1998. Escreve sobre medicina há 15 anos e ganhou mais de 10 prêmios nacionais de jornalismo

Quantas vezes na vida você ouviu a expressão “se não fizer bem, mal também não faz”? Nós, brasileiros, gostamos de pensar que tudo o que é natural é necessariamente benéfico. Temos medo dos efeitos colaterais dos remédios, mas não nos preocupamos em saber se chazinhos ou cápsulas naturais causam reações indesejáveis. A resposta é sim. A natureza tem venenos poderosos.

No ano passado, escrevi uma coluna sobre os riscos da interação entre ervas muito populares e medicamentos convencionais. Uma lista de várias combinações perigosas você encontra neste link. Volto ao tema hoje com uma ótima novidade. O médico Drauzio Varella estreia no dia 29 mais uma de suas excelentes séries no Fantástico, da TV Globo. Ela vai se chamar É bom pra quê? Em quatro domingos, Drauzio vai apresentar uma ampla investigação sobre ervas e fitoterápicos. A equipe viajou para nove Estados e levantou as evidências científicas relacionadas às ervas mais usadas no Brasil. As revelações vão surpreender muita gente. E, certamente, provocar controvérsia.

Depois desse mergulho no mundo obscuro dos fitoterápicos, Drauzio concluiu que os brasileiros estão sendo enganados. Nesta semana, ele me contou em primeira mão o que descobriu. Com vocês, a visão e os conselhos de Drauzio:

Divulgação
DRAUZIO VARELLA
"Antes de oferecer essas ervas aos pacientes, é preciso avaliar a ação delas com rigor científico"
ÉPOCAErvas medicinais servem pra quê?
Drauzio Varella – Mais da metade dos medicamentos são derivados dos produtos naturais. A morfina e a aspirina são alguns exemplos. Ervas e chás são usados desde sempre. Galeno desenvolveu no século II uma poção que tinha mais de 70 ervas. Até carne de cobra tinha nessa poção. Era usada tudo o que você pode imaginar. Essa poção foi usada até o século XIX na Europa. Foram acrescentando outras coisas. Chegou a ter mais de cem plantas misturadas. Era uma panaceia. À medida que a química analítica foi se desenvolvendo, especialmente na Alemanha, eles começaram a procurar nessas plantas quais eram os princípios ativos. Da papoula, os alemães isolaram a morfina. De outra planta, isolaram a aspirina. Foi assim que a farmacologia se desenvolveu. Mas a tradição de usar chás sempre existiu. Todos nós temos na família um chá predileto. Uma coisa é dar um chá de camomila para criança. Isso é feito há séculos e a gente sabe que não faz mal nenhum. Ou chá de erva cidreira para acalmar, para dormir etc. Outra coisa é usar chás para tratar de doenças. Essa é uma medicina extremamente popular, mas é um problema.

ÉPOCAO Ministério da Saúde elegeu oito plantas às quais se atribui alguma atividade e passou a distribuí-las no SUS. São elas: alcachofra, aroeira, cáscara sagrada, garra do diabo, guaco, isoflavona da soja e unha de gato. Isso é ruim?
Drauzio – Que tipo de medicina o governo cria com uma medida como essa? Ele institui duas medicinas: a do rico e a do pobre. As pessoas que têm acesso ao atendimento de saúde vão a médicos e compram remédios em farmácia. O que o governo fez foi criar uma medicina para pobres baseada em plantas que não têm atividade demonstrada cientificamente. Quando dizem que determinada planta tem atividade isso significa que em tubo de ensaio ela demonstrou ter determinada ação. Mas isso não basta. Para ter ação comprovada em seres humanos, falta muita coisa.

ÉPOCAO que você pretende mostrar com essa série?
Drauzio – Nosso objetivo é mostrar que esses fitoterápicos têm de ser estudados. Têm de ser submetidos ao mesmo escrutínio ao qual os remédios comuns são submetidos. Essas coisas são jogadas para o público sem passar por estudo nenhum. Hoje vemos órgãos públicos distribuindo esses chás e fazendo o que chamam de Farmácias Vivas. Estivemos em várias delas. Em Belém, Imperatriz (no Maranhão) e em Goiânia. Essas Farmácias Vivas não são nada mais do que hortas. As plantas são cultivadas ali e distribuídas para a população sem o menor critério. Muitas vezes são indicadas por pessoas que não entendem nada de medicina. Outras vezes, são prescritas por médicos. Quem não prefere tomar um chá desses em vez de um comprimido ou injeção? Essas Farmácias Vivas estão no país inteiro. São estimuladas pelo Ministério da Saúde e pelas secretarias estaduais.

ÉPOCAOs riscos e os benefícios dessas oito plantas eleitas pelo Ministério da Saúde não foram suficientemente determinados?
Drauzio – Eles dizem que os riscos e os benefícios foram avaliados pelo uso tradicional. É para dar risada. A Anvisa dá uma relação dessas plantas e coloca qual é a alegação terapêutica. Apresentar a alegação terapêutica significa afirmar o seguinte “dizem que serve para tal coisa, mas ninguém comprovou”. É uma situação muito séria. Primeiro porque ninguém sabe de que forma essas plantas podem interagir com os remédios que a pessoa está tomando. Ninguém sabe o que pode acontecer. Outro problema grave é que as pessoas abandonam o tratamento convencional e ficam apenas com as ervas.

ÉPOCAA Organização Mundial da Saúde de certa forma incentiva o uso desses produtos naturais porque a maioria da população mundial não tem acesso à medicina. Nesse contexto, as ervas não têm um papel importante?
Drauzio – Acho que esse é o cerne da discussão. É um absurdo dizer “olha, já que vocês não têm acesso à medicina se contentem tomando chazinho”. Isso é enganar a população. É dar a impressão de que as pessoas estão sendo tratadas quando na verdade não estão. Antes de oferecer essas ervas aos pacientes, é preciso avaliar a ação delas com rigor científico. Por exemplo: como saber se um determinado chá traz algum benefício contra a gastrite? É preciso separar dois grupos de pacientes. Um deles toma uma droga conhecida, como o omeprazol. O outro toma omeprazol e mais um chá que vem num sachê junto com uma bula que explique direitinho quantos minutos aquilo tem de ficar na água etc. Aí é comparar os resultados obtidos nos dois grupos. Não existe estudo assim. E ninguém está disposto a fazer. Os defensores dessa chamada medicina natural querem que o mundo aceite que é desse jeito e acabou. Sem nenhum estudo e sem passar por todo processo de avaliação científica que os medicamentos passam para poder ter a ação demonstrada.

ÉPOCAO Ministério da Saúde errou ao adotar essa política?
Drauzio – Essa medida está totalmente errada. Isso não deveria ter sido feito de jeito nenhum. O que está por trás disso é uma questão política. Imagine se eu fosse o prefeito de uma pequena cidade do interior. Quanto custa um posto de saúde, médico, enfermagem, paramédicos etc? Custa caro. É muito mais barato fazer uma horta e mandar o médico receitar aquilo. E ainda inauguro o negócio com o nome de Farmácia Viva. Imagine só que nome mais inadequado. Fazer uma coisa dessa não custa quase nada. E os políticos adoram inaugurar essas hortas. Há centenas delas no Brasil.

ÉPOCAQue realidade vocês encontraram durante a apuração das reportagens?
Drauzio – Descobrimos muitas histórias. Em Belém, estivemos na sede da Embrapa. Encontramos lá um engenheiro agrônomo que dá consultas. Você diz que está tossindo, com febre e ele te dá um xarope de guaco. Isso é feito dentro de um órgão público, oficial. O paciente que vai lá é tratado por um engenheiro agrônomo. Isso é aceito como se fosse uma coisa normal. Há uma ideologia por trás disso. É a ideologia de que as coisas naturais são melhores, de que os remédios fazem mal para a saúde, de que a tradição é melhor que a ciência. É uma coisa do século passado. A população de baixa renda está nas mãos de pessoas como esse engenheiro agrônomo. Ele faz isso de boa fé. Não faz para ganhar dinheiro. Ele acredita no que faz. Mas estamos numa área em que as crenças individuais não têm a menor importância.

ÉPOCAVocê vai criticar hábitos arraigados na cultura brasileira. Está preparado para enfrentar as críticas?
Drauzio – Todas as séries que fizemos no Fantástico foram séries que, de um modo geral, agradavam às pessoas. Falar sobre obesidade e hipertensão são coisas úteis. Todo mundo fica de acordo. Essa nova série vai ser diferente. Ela vai me criar problema. Em geral, quem usa esse tipo de medicina (se é que podemos chamar isso de medicina) são pessoas ignorantes, crédulas e que acreditam em qualquer besteira que digam a elas. O que me desconcerta é ver pessoas muito cultas que também usam essas coisas.Tenho amigos que usam. Recomendam suco de berinjela para baixar o colesterol e outras bobagens. Toda hora ouvimos falar isso. Tenho um amigo que é seguramente a pessoa mais culta que eu conheço. Tem uma cultura absurda, mas acredita em todas essas idiotices. Às vezes as pessoas têm uma cultura gigantesca em outras áreas, mas em farmacologia são completamente ignorantes. Tão ignorantes quanto o coitado que não pôde aprender a ler e a escrever e credulamente vai atrás dessas coisas.

ÉPOCAAlém dos chazinhos, existem produtos fitoterápicos registrados pela Anvisa e vendidos nas farmácias. Esses também não são submetidos a estudos para comprovar eficácia e riscos?
Drauzio – Eles são registrados na Anvisa como complemento alimentar. Ou seja: não passam pelo mesmo crivo de um medicamento. Se eu tivesse autoridade para isso, mandaria recolher do mercado todos os fitoterápicos cuja eficácia não tenha sido demonstrada cientificamente.

ÉPOCAImagino que muita gente vai dizer que você está defendendo os grandes laboratórios. Como vai responder a essa crítica?
Drauzio – Não tenho a menor dúvida de que esse tipo de comentário vai surgir. Minha resposta é simples. Não estamos fazendo defesa de nenhum medicamento. Não estamos beneficiando nenhum laboratório. Essa é uma questão filosófica. Enquanto a medicina era baseada em chazinhos, as pessoas viviam apenas 30 ou 40 anos. As pessoas falam tanto da medicina chinesa, não é? Elas justificam a eficácia da medicina chinesa dizendo que é milenar. Mas no início do século XIX os chineses (que contavam com essa medicina há muito tempo) morriam, em média, aos 30 anos. Quem provocou esse salto na qualidade e na duração da vida foi a medicina moderna: as vacinações, os antibióticos, o controle da pressão arterial, do diabetes etc. Na verdade, esse é um argumento ideológico recorrente. Dizem que é preciso dar chazinhos porque as multinacionais fazem remédios caros, que envenenam as pessoas etc. Criam uma teoria da conspiração. Todo mundo sabe que teoria da conspiração é uma coisa que pega.

ÉPOCAVocê sofreu esse tipo de crítica nas séries anteriores?
Drauzio – Há alguns anos fizemos uma série no Fantástico sobre gravidez. Era um pré-natal pela televisão. Tínhamos cinco pacientes de perfis diferentes. Duas das cinco nulheres foram para cesariana (uma hipertensa e uma paciente de 43 anos com pré-eclâmpsia). Se eu estivesse no lugar da obstetra provavelmente eu também teria feito cesariana naquela paciente. Apareceu uma associação de parto normal dizendo que eu estava em conluio com a TV Globo e as grandes maternidades para induzir as mulheres a fazer cesariana. Foi uma coisa louca. Imagine o que pode acontecer agora, com esse assunto das ervas que é muito mais popular e atinge muito mais gente.

ÉPOCAÉ possível conciliar o tratamento convencional com algum fitoterápico? Quando o paciente pergunta se pode fazer o tratamento e continuar tomando uns chazinhos ou umas cápsulas o que você responde?
Drauzio – A resposta certa é: eu não sei. Não sabemos se existem interações. Documentar interação entre medicamentos tradicionais (com dose fixa e tudo) já é difícil. Imagine um chá desses que tem dezenas ou centenas de substâncias. Como você pode garantir que não existe nenhum antagonismo? Esse é o primeiro ponto. Digo para os pacientes não perderem tempo com essas coisas. O segundo ponto é que a medicina não pode ser feita com drogas que temos que provar que fazem mal. Temos provar que fazem bem. Se não isso não tem fim. Não chegamos a lugar nenhum. É errado dizer que o fitoterápico, pelo menos, vai fazer bem psicologicamente, que vai produzir um efeito placebo etc. Isso é enganar as pessoas. É o mesmo que dizer: vou te dar uma coisa que não serve para nada, mas como você é boba vai achar que serve e vai ficar feliz.

ÉPOCAO que mais o surpreendeu durante a preparação da série?
Drauzio – Fiquei surpreso ao ver que o uso das ervas é feito sem nenhum controle e ainda é referendado por órgãos públicos, ligados ao Ministério da Saúde ou à Embrapa. Fiquei ainda mais surpreso com o discurso que existe por trás dessas coisas. Dizem que o uso das ervas tem fundamento científico. O fundamento científico é nenhum. Muitas vezes esse fundamento científico é uma tese de mestrado que alguém fez na faculdade de farmácia e que demonstrou que em determinada cultura de células ou em determinado animal uma fração daquele extrato tem alguma ação. Isso é apresentado como prova inequívoca da eficácia do extrato ou do chá. É um absurdo.

ÉPOCAO que ouviu dos doentes?
Drauzio – Essa é a parte mais triste. Muitas pessoas param de se tratar porque acreditam nessas coisas. Encontrei uma senhora em Goiânia que descobriu um tumor de mama quando ele tinha 1,5 cm. Ficou tomando chás e fazendo tratamento com argila e quando foi operada o tumor já tinha dez centímetros. E ainda disseram para ela: “ainda bem que a senhora tomou as ervas, isso fez o tumor crescer devagar. Se não tivesse tomado, o tumor teria crescido mais depressa”.

ÉPOCAPor que tanta gente é atraída para essas práticas?
Drauzio – A verdade é que, de uma forma geral, esse pessoal tem um atendimento muito precário no SUS. O médico nem olha na cara do paciente, dá a receita e manda-o embora. Nos lugares que oferecem tratamentos alternativos o acolhimento é outro. Muitas vezes quem receita as ervas são freiras em paróquias espalhadas pelo Brasil. Quem atende esses pacientes conversa, passa mais tempo com o doente. Esse lado acolhedor é o que mais atrai as pessoas. O doente vai ao médico e ele nem olha na cara. O outro, conversa.

ÉPOCAMuitas vezes esse outro explica o que o médico não teve paciência de explicar, não é mesmo?
Drauzio – Dá uma explicação estapafúrdia, mas aquilo adquire uma lógica para quem sofre. Em alguns lugares do SUS que tratam com fitoterápicos, a consulta dura 40 minutos. É um grande diferencial. É algo muito atrativo. Mas é um mundo totalmente absurdo. A preparação dos chás é muito variável. Por quanto tempo as folhas foram fervidas? O chá ficou na geladeira? Isso tudo altera a concentração da substância presente ali. Na Farmácia Viva lá de Belém tem uma plantinha chamada insulina. Usam para diabetes. Chega lá a pobre ignorante e dizem para ela não tomar a insulina que o médico receitou. Mandam tomar a plantinha.Tem outra plantinha chamada Novalgina.

ÉPOCAComprovar o benefício de uma planta exige muita pesquisa. É um longo processo que separa a crendice da ciência. Como se chega a esse tipo de comprovação?
Drauzio – Na série, vamos mostrar qual é o processo certo para se chegar a isso. Visitamos um centro de pesquisa muito bem equipado na Universidade Federal do Ceará e também fomos a Porto Alegre. Contamos ainda como anda o projeto que desenvolvemos na Amazônia há 15 anos. É preciso coletar a planta, moê-la, preparar o extrato, testá-lo em tubo de ensaio. No nosso projeto no Rio Negro conseguimos 2,2 mil extratos. Metade foi testada contra células malignas. Cento e noventa demonstrou alguma atividade. Vinte apresentou bastante atividade. Separamos oito extratos para estudar profundamente. É um processo muito lento. O extrato é um chá. É preciso fazer exames de cromatografia e ressonância magnética para separar as frações. É o que estamos fazendo agora.

ÉPOCAE depois?
Drauzio – Aí temos que testar cada fração para ver qual delas é a responsável pela atividade. Essa fração é que vai em frente. Vai ser testada em animais, depois em humanos etc. É tudo muito complexo. Não cabe às autoridades responsáveis pela saúde adotar métodos de tratamento que não têm eficácia demonstrada. As autoridades não podem criar uma medicina para rico e outra para pobre baseada em tratamentos baratinhos e sem ação. Vamos tentar mostrar como funciona o método científico. Como se prova que uma coisa é boa para a saúde ou não. Não podemos aceitar que as pessoas continuem sendo enganadas.

E você? Usa ervas e fitoterápicos? Concorda com Drauzio? Discorda? Queremos ouvir a sua experiência e a sua opinião.

  Divulgação
EM AÇÃO
O trabalho de Drauzio Varella também já foi mostrado no cinema. Na foto, cena de Histórias do Rio Negro, de Luciano Cury (2007)

(Cristiane Segatto escreve às sextas-feiras)

fonte: REVISTA ÉPOCA

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Preposição

Pergunta nº 291 : Por ou pela

26/03/2007 - Valdete Pereira de Sousa - Uberlândia-MG

Consulta : Na frase: No dia 09, foi realizada uma palestra sobre a ferramenta Canal Aberto com a participação dos coordenadores de curso de Graduação e outros representantes desta área, incluindo Eduardo ....... A apresentação foi feita por Paula da Silva e Natália Cordeiro. A utilização da preposição "por" está correta ou, poderia ser usada a preposicao "pela"? A propósito, quando utilizar uma ou outra? Obrigada.

Resposta :

A preposição "por" está bem empregada e só poderia ser trocada por "pela" se se tratasse de alguém conhecido ou a relação com a pessoa referida fosse de afetividade. Como, no exemplo, estão sendo usados os sobrenomes (que geram um afastamento entre quem fala e a pessoa referida) a melhor maneira é "A apresentação foi feita por Paula da Silva e Natália Cordeiro", assim como no masculino se diria que "foi feita por João da Silva Coutinho". Sobre o assunto ver também a coluna Não Tropece na Língua nº 150 – CRASE COM NOMES DE MULHERES.

FONTE: Língua Brasil