Viajar por um longo tempo é um tanto de desapego e um tanto maximização da saudade ou da vontade de ter as coisas de volta. Esvaziar os armários, dar roupas velhas, jogar coisas fora são coisas que vão dando uma dorzinha no peito.

Uma vez eu estava ajudando minha avó a limpar a garagem da casa dela e ela ia encontrando coisas e dizendo que não queria jogar fora porque tinha alguma história grudada na peça. Claro que ela não deixou jogar quase nada fora e a garagem ficou como estava antes, ou seja : entulhada até o teto de coisas que só estavam impregnadas de lembranças, mas nada de prático.


Agora estou passando por uma semana de esvaziamento lugares, a vontade é de desistir, de ficar e ao mesmo tempo é de não deixar nada para que não dê vontade de voltar. Afinal para que a gente volta?


Numa palestra outro dia um bombeiro disse que as pessoas que sobrevivem a um incêndio, a um naufrágio ou a alguma outra tragédia sempre tinham motivos para voltar para casa. Talvez sobreviver tenha mesmo uma relação direta com apego, com saudade ou com um senso de fazer parte de algo. Perder essa sensação de que você é necessário, de que não tem mais nada ou de que não vai mais ter saudade não deve ser algo muito humano. Afinal nós temos que nos sentir incluídos em alguma coisa para que possamos nos sentir civilizados.


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Hoje vendi meu querido Jeep. E foi uma sensação de perda muito grande. Nem olhei para trás para não entrar me crise. Foi o primeiro carro que senti apego, nunca tive isso por carros ou por coisas. Mas o Jeep era muito bacana. Não daria para deixá-lo guardado por 1 ano. E também vou precisar do dinheiro para resolver coisas pendentes.

Parece que quando eu voltar de viagem meu chefe vai ter sentido tanto a minha falta que vai comprar uma Pajero só para me deixar feliz.