terça-feira, 13 de maio de 2008

Gabriela: uma cinqüentona na flor da idade





ASTIER BASÍLIO
Jornal da Paraíba – 13/05/2008



NA TELA - Aos 25 anos, Sônia Braga personificou Gabriela na TV e sua imagem se mantém até hoje


Faltavam dois dias para o jantar que celebrava a instalação da linha das marinetes entre Ilhéus e Itabuna. Seu Nacib, o comerciante turco, não se importava muito com a tragédia que abalava a cidade, a morte de dona Sinhazinha Guedes e o amante, o dentista Osmundo, assassinados pelo coronel Jesuíno Mendonça, que com o ato lavava sua honra de marido traído.

É assim que começa o romance Gabriela Cravo e Canela, de Jorge Amado (1912–2001). A obra completa, neste mês de maio, 50 anos de publicação. Mais do que uma historiazinha de amor entre o turco Nacib e a cozinheira Gabriela, retirante fugida da seca e encontrada no “mercado dos escravos”, o romance mostra o confronto entre duas perspectivas políticas: a progressista, representada pelo exportador de cacau, o forasteiro Mundico Falcão, contra os conservadores, liderados pelo coronel Ramiro Bastos.

Celebrada na televisão, através de uma novela exibida na Rede Globo em 1975 (antes houve uma adaptação para a TV Tupi, em 1960) e no cinema pelas mãos de Bruno Barreto, em 1983, nesses dois momentos a imagem da personagem ganhou forma e beleza através da atriz Sônia Braga, com 25 anos na época da novela. Além do cinema, Gabriela também virou fotonovela, espetáculo de dança e história em quadrinhos.

Gabriela Cravo e Canela foi traduzido para mais de 30 línguas entre as quais hebraico, persa e ucraniano. Até hoje são 80 edições da obra.

Para o professor de literatura Chico Viana, Gabriela é um romance mais bem composto. “Como diria o Osman Lins, o romance se caracteriza por criar um universo próprio. E nesse livro Jorge Amado dá receitas, cita trechos de jornal, enfim, uma série de elementos, além de personagens verossímeis”, conta.

Se hoje em dia a imagem de Sônia Braga é quase indissociável da personagem Gabriela, sua escolha foi motivo de crítica do dramaturgo Plínio Marcos. Ele disse, no jornal A Última Hora, que era para a TV Globo ter escalado uma mulata, e não mandar Sônia Braga ir à praia se bronzear.

O tempo mostrou que o carisma de Sônia Braga sobreviveu, inclusive, à desastrada adaptação ao cinema. Conta-se que Jorge Amado poderia ter tido alguma influência na escolha do papel para Sônia Braga. Uma vez perguntaram isso a ele. Jorge não perdeu o humor e disse: “Ah, eu escolhi a Sônia, porque ela é minha amante”. Era uma brincadeira, mas na dedicatória do livro, o escritor, que tanto amava as mulheres e quem dedicara vários outros livro, já tratava de fazer uma média com sua esposa e escrevia: “Para Zélia, seus ciúmes (...)”.

Na opinião do professor de cinema da UEPB, Rômulo Azevedo, o filme de Bruno Barreto é “lastimável”. “Por incrível que pareça, a adaptação para televisão é muito melhor. O Nacib do Mastroianni é muito fraco; o Armando Bógus dá de dez a zero. Bruno Barreto foi melhor em Dona Flor e Seus Dois Maridos (outro romance de Jorge Amado)”, opina Azevedo.

No final do romance, o coronel é condenado, Mundico Falcão torna-se o líder político e Gabriela, que se casara com seu Nacib, se separara, volta ao aconchego de antes com a liberdade que unia inocência e sensualidade, na cozinha do turco, para a felicidade geral do povo de Ilhéus.

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