sexta-feira, 28 de março de 2008

Lançamento - Mergulho no passado

Yara Falcon
Vida & Arte

O Povo, 28/03/2008



LANÇAMENTO
Uma batalha contra o tempo
Henrique Araújo
especial para O POVO



Mergulho no passado - a ditadura que vivi, livro da baiana Yara Falcon, será lançado hoje, a partir das 14 horas, na Assembléia Legislativa. A linguagem atraente e coloquial são o grande trunfo da obra
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Yara Falcon escreve um livro atraente para narrar os tempos rebeldes (Foto: Mauri Melo) Yara "caiu" porque a ditadura havia confundido as combinações das jogadas de Batalha Naval - atividade lúdica e sem qualquer relação direta com o contexto social e político que o Brasil, nos anos de chumbo, enfrentava - com um código secreto usado por guerrilheiros.
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Com a ajuda de um jovem estudante de medicina e delator por amor à pátria, os militares promoveram, em Recife, nos idos dos anos de 1970, uma escuta que varou a madrugada e apontou, sem meias-verdades: a casa onde a estudante de Geologia morava abrigava comunistas. Os milicos estavam certos, mas pelos motivos errados.
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A baiana Yara Falcon e o irmão integravam, de fato, as fileiras de organizações que combatiam a truculência do establishment. Naquela noite, porém, apenas matavam o tempo afundando encouraçados.
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Em detalhes, o episódio acima é narrado numa das 208 páginas de Mergulho no passado - A ditadura que vivi, livro escrito pela própria Yara Falcon e lançado hoje, às 14 horas, na Assembléia Legislativa do Estado do Ceará.
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O evento faz parte do calendário que celebra, com palestras e exibições de filmes, a programação da Associação Anistia 64/68 alusiva aos 40 anos de 1968. "O livro da Yara é importante porque traz um olhar feminino sobre os acontecimentos que marcaram toda uma geração", resume Mário Albuquerque, presidente da instituição.
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O olhar da autora vai além e busca, por meio de uma linguagem rápida e despojada, aproximar das gerações mais jovens um passado que resiste ao tempo. "Tive mesmo essa preocupação com a linguagem. Foi um livro difícil, que levei cinco anos pra fazer, sempre pegando e largando. Mas fiz o livro que queria", explica Yara, para quem os jovens de hoje não sabem muito bem como as coisas eram naqueles anos, como se "conquistou a liberdade de expressão" desfrutada na contemporaneidade.
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Dividido em três partes, Mergulho no passado traça, ao modo dos antigos diários e, modernamente, dos blogs, um panorama particularíssimo dos anos vividos sob o regime de exceção. Autora de dois romances que têm o Japão, país onde viveu, como pano de fundo e de alguns livros infanto-juvenis, além de mergulhar no passado histórico do Brasil, Yara imergiu nas páginas de O apanhador no campo de centeio, de J. D. Salinger, um clássico da literatura norte-americana. A intenção era buscar inspiração.
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Do seu gosto por histórias voltadas para os jovens veio, portanto, o grande barato do livro: ele não apenas reconta parte de um importante período da história do Brasil, mas o faz de maneira atraente.
Mesmo quando tem de se haver com um sem-número de siglas partidárias e episódios dramáticos como o desmantelamento do famoso congresso promovido pela União Nacional dos Estudantes (UNE), em Ibiúna, o texto de Yara se sai muito bem e ecoa outro clássico do gênero: O diário de Anne Frank. Um livro para se ler na escola.


SERVIÇO:

Lançamento, hoje, do livro Mergulho no passado - a ditadura que vivi, de Yara Falcon, a partir das 14 horas, na Assembléia Legislativa. O evento integra o calendário promovido pela Associação Anistia 64/68 que celebra os 40 anos de 1968. Outras informações no telefone 3223 6468 ou 9924 6468.

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