terça-feira, 25 de setembro de 2007

Cubando o movimento


Airton Soares

O padroeiro da minha terra natal É São Sebastião, comemorado a 20 de janeiro. Todos os anos, nós ipuenses, comemoramos e festejamos este evento religioso, naturalmente regado à missa, novena, festas e outros atrativos do gênero.

No sereno da festa
No ano em que meu pai, por alguma razão, não podia se fazer presente à grande festa no Clube Recreativo Grêmio, dizia assim: “Este ano só vou ficar no sereno da festa cubando o movimento.”

Tinha lá meus nove anos
O tempo foi passando e cubando o movimento não saiu de minha mente. Na época, ainda pequeno, ouvira muitas vezes esta expressão e era da minha inteira compreensão, muito embora não soubesse explicar. Tinha lá meus nove anos.

Acontece que
Na faculdade me apaixonei pela etimologia e passei a me questionar: Por que cubar é observar em seus mínimos detalhes?

Eureca!
E... Comecei a escarafunchar nos dicionários qual a razão de se dizer cubar... Ora, cubar vem de cubo e na geometria é um poliedro com seis faces quadradas. Daí quando se está cubando o movimento se observa o que está em cima, embaixo, do lado direito, do lado esquerdo, de tudo que é canto. Não deixa passar nada! É uma observação de fazer inveja aos "grampos" utilizados pela Polícia Federal, de tão profunda que é!

Neologismo
Marcus Gadelha, no Dicionário de Cearês diz que cubar é observar um lugar com a intenção de roubar. Nesse mesmo sentido, o professor Tomé Cabral no seu Dicionário de Termos e Expressões Populares, averba: cubar é medir o adversário, calculando a possibilidade de êxito, em caso de agressão. Diz ainda o renomado professor que cubar é um neologismo proveniente do Sul, já bastante difundido no Nordeste, no meio dos malandros e desordeiros.

O meu contexto
Não precisa muito esforço para o leitor perceber que o contexto da minha vivência com relação a cubar está literalmente inserido no contexto curiosidade.

E pra terminar...
Costumo dizer em meus cursos e palestras: CURIOSnão temIDADE e
“Um remédio para o tédio é a curiosidade e não existe remédio para a curiosidade.” Assim, curiando, aprendi a esquartejar as palavras; penetrar em suas vísceras para extrair o néctar semântico e `genomar´ seus infindos significados que dormem, como diz o poeta Valdemir Mourão, como criancinhas risonhas a contemplarem os anjos sem notarem o perigo que se aproxima.

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