sábado, 18 de agosto de 2007

A cidade do sol - Entrevista

Novo livro do autor de "O Caçador de Pipas" já é nº 1
"A Cidade do Sol", de Khaled Hosseini, está em primeiro entre mais vendidos

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Tiragem inicial no Brasil foi de 300 mil cópias; para se ter uma idéia, sexto "Harry Potter", fadado a best-seller, saiu em 2005 com 350 mil

EDUARDO SIMÕES

DA REPORTAGEM LOCAL

A barbada era esperada. Lançado no Brasil na semana passada, o segundo romance de Khaled Hosseini, 42, autor do best-seller "O Caçador de Pipas", já está em primeiro lugar nas listas de mais vendidos.

A tiragem inicial de 300 mil exemplares de "A Cidade do Sol" já foi toda distribuída e a editora Nova Fronteira vai imprimir outras 100 mil cópias. Para se ter uma idéia do feito, "Harry Potter e o Enigma do Príncipe", sexto volume da série de J.K. Rowling, fadado a ser bst-seller, foi lançado em 2005 com 350 mil exemplares.

Médico, afegão radicado nos Estados Unidos desde 1980, Hosseini disse à Folha que, apesar de o novo livro ter o Afeganistão como pano de fundo, e cobrir praticamente o mesmo período de tempo do romance anterior, não se deve esperar uma mera seqüência de "O Caçador de Pipas". Leia a seguir entrevista com o autor.

FOLHA - "A Cidade do Sol" conta a história da amizade entre duas mulheres e tem como cenário o Afeganistão em meio a conflitos. O leitor lerá uma espécie de seqüência de "O Caçador de Pipas"?

HOSSEINI - O romance não é uma continuação de "O Caçador de Pipas". Ele se passa no Afeganistão e lida com um segmento da população que não era relevante no primeiro livro: as mulheres afegãs. Dito isso, este romance também é, na essência, uma história de amor, como "O Caçador de Pipas". Enquanto o primeiro romance era sobre o amor entre homens, irmãos, pais e filhos, "A Cidade do Sol" é uma história sobre a maternidade e o amor entre mães e filhas. O romance também fala como o amor pode ajudar uma pessoa a transcender seus próprios limites e fraquezas. E, como no primeiro livro, talvez até mais, "A Cidade do Sol" é uma crônica dos eventos que aconteceram no Afeganistão nos últimos 30 anos. Com foco no modo como a invasão soviética, a guerra civil, o Talebã e seu extremismo, afetaram as mulheres.

FOLHA - Como foi a pressão para escrever o segundo romance?

KHALED HOSSEINI - Boa parte da pressão foi feita por mim mesmo. Meu agente e editores não me apressaram. Eu queria muito contar a história de Laila e Mariam, e a pressão consistia em achar o caminho. A história foi ficando ambiciosa e houve dias em que eu pensei que o livro ia morrer. Nesses dias a pressão era palpável. Mas a história adquiriu vida própria e quando eu estava completamente imerso no mundo dessas mulheres ela evaporou.

FOLHA - Onde buscou estas vozes femininas?

HOSSEINI - Havia toda uma faceta da sociedade afegã que eu não havia abordado no primeiro livro. Uma paisagem fértil em termos de idéias para histórias. Afinal, tanta coisa aconteceu com as mulheres afegãs nos últimos 30 anos, especialmente depois que os soviéticos saíram e os conflitos entre facções começaram. Com a guerra civil, elas foram sujeitas a abusos de direitos humanos, desde casamentos forçados até estupros. Foram raptadas e vendidas para a prostituição. Quando os Talebãs chegaram, eles impuseram restrições às mulheres, limitando seu movimento, expressão, impedindo que trabalhassem ou se educassem, assediando-as, humilhando-as.

Na primavera de 2003, eu fui a Cabul e vi umas mulheres vestidas de burca, sentadas nas esquinas, com quatro, cinco, seis crianças, implorando por mudança. Eu as observei andando aos pares na rua, seguidas de seus filhos maltrapilhos, e fiquei pensando como a vida as conduziu até aquele estágio.

Quais eram seus sonhos, esperanças, desejos? Quem eram seus maridos? O que e quem elas haviam perdido nas guerras que haviam flagelado o Afeganistão por duas décadas?Eu conversei com muitas delas. Suas histórias de vida eram de cortar o coração. Uma delas, mãe de seis crianças, disse-me que o marido dela, um policial de trânsito, não recebia salário há seis meses.

Ela havia pedido dinheiro a amigos e parentes, mas como não podia pagar, eles pararam de emprestar. Soube de uma viúva que, diante da expectativa de passar fome, pôs veneno de rato em migalhas de pão e deu aos filhos, antes de comer também. Quando comecei a escrever "A Cidade do Sol", me peguei pensando nessas mulheres resistentes. Embora nenhuma delas tenha inspirado Laila ou Mariam, suas vozes, rostos e incríveis histórias de sobrevivência estavam sempre comigo. Seu espírito coletivo é o embrião do livro.

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