A ortografia ainda é um desafio para muitos redatores. Difícil não dar uma escorregadela vez ou outra, sobretudo quando falha o princípio da associação, na maior parte das vezes válido. Se “pesquisa” se escreve com “s”, “pesquisar” só pode ser com “s” também. Certo? Sim, a associação valeu. De vez em quando, porém, ocorre o inusitado e a situação pega de jeito o redator incauto:
“As viagens têm início às 8h da manhã; e se extendem até às 23h.”
Certamente, quem escreveu o texto pensou na palavra “extensão” (com “x” mesmo) e fez a associação. De fato, tanto o verbo como o substantivo vêm de formas latinas com “x” (extendere e extensione, respectivamente). Na evolução do sistema ortográfico do português, o verbo ficou com “s” e o substantivo ficou com “x”.
A frase, embora curta, ainda comporta mais dois problemas. Um deles é o emprego redundante da locução “da manhã”. Embora seja bastante usual na linguagem falada e até admissível em alguns casos, esse emprego aqui parece, de fato, abusivo, dado que o redator está usando a escala de 24 horas, não a de 12. O outro diz respeito à crase.
Aprendemos que, antes da indicação de horas, sempre ocorre crase. Isso é verdade quando nos referimos às locuções adverbiais de tempo cujo núcleo é a palavra “hora” (ou seu plural, “horas”). Reconhecer essas locuções não é difícil: elas respondem à pergunta “Quando?”. Assim: “Quando você chegará? No domingo, às 18 horas”, “Quando ocorreu o acidente? Ontem, às 12 horas (ou ao meio-dia)”.
Há situações, entretanto, em que a indicação de horas é precedida de uma preposição diferente do “a”. Quando isso ocorre, deixa de haver a fusão de dois “aa” a que chamamos crase. Assim: “A reunião estava marcada para as 17h”, “Estarão lá entre as 15h e as 18h”, “As viagens se estendem até as 23h”.
Veja, abaixo, a frase corrigida:
As viagens têm início às 8h e se estendem até as 23h.
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