domingo, 4 de julho de 2010

Falece Abelardo Fernando Montenegro - 26/04/2010

.
fonte: Diário do Nordeste, 28/04/2010


Clique para Ampliar

Abelardo Montenegro em sua biblioteca: obras referenciais para compreender o Ceará
THIAGO GASPAR

28/4/2010

Autor de mais de 40 livros, Abelardo F. Montenegro, morreu na noite desta segunda-feira. O pesquisador foi um dos intelectuais mais destacados do Ceará no século XX

Ao morrer, na noite de anteontem, Abelardo F. Montenegro deixou um mundo bem diferente de outro que conheceu, décadas atrás. Não me refiro ao caos social, moral e tecnológico do tempo presente. O que Abelardo não encontrava mais era outros como ele. E se os encontrava era em número tão reduzido que não seria exagero pensar em uma espécie em extinção.

Montenegro era um intelectual de um gênero cada vez mais raro. Um erudito, para usar uma palavra que se vai junto daqueles que a justificaram. "Polígrafo" era a expressão que usou para se definir, em sua última entrevista ao Diário do Nordeste, em maio de 2008. Para explicá-la, recorria à outra, do repertório do povo, que tanto estudou: "um homem de sete ofícios".

Se assemelhou aos autores do passado, quando os intelectuais transitavam por diversas áreas e as conjugavam, antes mesmo dos rótulos inter/transdisciplinaridade. Numa biblioteca rica, seus livros serão encontrados nas sessões de Economia, Ciências Políticas, Sociologia e Psicologia Social. "Sou economista e predominantemente um sociólogo, de sociologia regional. Além disso, escrevi muitos trabalhos de Psicologia Social", esclareceu Abelardo.

Como outros intelectuais de seu tempo, Abelardo Montenegro foi um homem de imprensa, atuando no Ceará e em estados do Sudeste. Fundador da Faculdade de Economia da Universidade Federal do Ceará, lecionou por 30 anos. Como economista, ainda trabalhou para as iniciativa pública e privada.

Produção intelectual

Ainda que não faltem elogios ao todo da produção intelectual de Abelardo Montenegro, foi o conjunto de suas obras sobre o Ceará que chamou mais atenção. O Estado onde nasceu foi um enigma que acompanhou o pesquisador até o fim.

Aos estudiosos da literatura, legou o importante "O Romance Cearense", em que investiga a aparição e trajetória acidentada deste gênero literário em nossa terra de contistas. Para as ciências sociais e políticas, "História dos Partidos Políticos Cearenses" (para não contar os teóricos "Variações em torno da Democracia" e "A Ciência Política no Brasil e Outros estudos").

Do Ceará, no entanto, foi a sociedade sertaneja quem recebeu mais atenção. Quando jovem, Abelardo conheceu o Padre Cícero, em Juazeiro do Norte e, em sua obra adulta, a religião do povo, que viu de perto, reaparece. À religião dedicou "História do Fanatismo Religioso no Ceará" e "Fanáticos e Cangaceiros", além de recorrer a ela em partes de "História do Cangaceirismo no Ceará".

O autor publicou ainda obras em que tentou conferir unidade ao Ceará, caso de "Psicologia do Povo Cearense" e "Ceará: Tentativas de interpretação". "Eu sou um cearense da diáspora. E o Ceará é um centro de dispersão. Morei em vários Estados do Sul e do Sudeste - São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina... Mas ao retornar definitivamente para o Ceará, por amor à minha terra, decidi interpretar a história do Estado, compreender a psicologia do meu povo. Foi aí que iniciei a pesquisa para os vários livros que escrevi sobre o Ceará", relembrou Abelardo Montenegro, em entrevista ao Caderno 3, em julho de 2001.

"Foram várias fases de estudo: a primeira, descritiva; a segunda, elucidativa; e a terceira, interpretativa. Em 1953, publiquei ´Ceará: tentativa de explicação´; em 1959, ´Praça do Ferreira´; e, agora, ´Interpretação do Ceará´", detalhou o intelectual.

DELLANO RIOS
REPÓRTER

Nenhum comentário: