domingo, 4 de julho de 2010

Abelardo Fernando Montenegro

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fonte: http://www.ceara.pro.br/abelardo/


Professor, Advogado, Historiógrafo, Jornalista, Sociólogo,
Articulista, Ensaísta e Escritor Cearense

Nasce, a 30 de maio de 1912, Abelardo Fernando Montenegro, filho único do Dr. Paulo Pedro de Moura Montenegro e de Heloisa Semiramis Montenegro. Sua mãe que nascera em 6 de fevereiro de 1894, na foto com 17 anos, falece poucos meses depois de seu nascimento, vítima de peritonite.

Sua morte o deixaria órfão no sentido mais amplo possível, fazendo-o acolher no vazio deixado por sua morte, um amor infindo por todas as mães, carregando pelo resto de sua vida essa admiração especialíssima à figura da mãe. Seu pai casa-se novamente em 1914, com Olga de Azevedo. É criado por sua avó materna, Benvinda de Oliveira Montenegro até os seus dez anos indo então residir com pai e madrasta. Seu pai, então Juiz Municipal da Aquiraz, transformou sua vida de menino mimado. Sua tia, após a morte de sua avó materna, ambas extremamente religiosas, internou-o no Seminário da Prainha, tendo sido contemporâneo de Luís Rocha e Helder Câmara. Ingressa no Colégio Cearense ainda mantendo o pouco interesse pelos estudos, apenas fortuitas incursões em capa e espada e leituras do Gênero.

Em 1928 ingressa no Colégio Castelo Branco. Aí então a atração pela leitura proveitosa toma rítmo e começa a exercer sobre ele total fascínico pelo desconhecido. A História Universal o fazia aventurar-se cada vez mais pelo caminho das letras. Colégio Cearense

Em 1928, seu pai é promovido a Juiz de Direito de Assaré e o leva para o Ginásio do Crato, hoje Colégio Diocesano. A Cidade do Crato, as coisas simples e os amigos que lá deixou estão indelevelmente guardados na memória. Mora parte de sua adolescência e Juventude com seu padrinho Augusto Fiúza Pequeno, (Zeca) que exerceria grande influência sobre o afilhado. É aprovado em primeiro lugar para a Faculdade de Direito do Ceará, em 1932, após 3 meses acamado por violenta febre tifóide. Bacharelando-se em Ciências Jurídicas e Sociais a 8 de dezembro de 1936.Seu primeiro trabalho foi como Jornalista, profissão que exerceria outras vezes, no Jornal Arquidiocesano – "O Nordeste" dirigido por Dom Manuel Antônio de Andrade Furtado, com o cognome de Monte Negro. Pouco depois, em 1935, adere ao movimento Aliança Nacional Libertadora, criando núcleo em Senador Pompeu. Inicia suas atividades como advogado na Comarca de Maria Pereira, hoje Mombaça-CE. Apaixona-se, noiva-se e arrepende-se pouco depois,seria o celibato seu estado civil, decretado pela sensação de que "mulher nenhuma suportaria meu modo de vida, dedicado diuturnamente ao estudo e à pesquisa." Em 1938, abraça a causa maçônica e no mesmo ano, viaja rumo ao Rio de Janeiro, em busca de aventura, espírito aberto, coração ansioso. Acometido de malária, recorre aos primos lá residentes, desfaz-se do anel de bacharel e dos livros e direito e viaja mais ao sul. Florianópolis, SC, o recebe. Cata oportunidade de se apresentar aos intelectuais daquela cidade. Oferece-se para discursar sobre Tobias Barreto, cujo centenário de nascimento ocorreria em dias. O sucesso de seu discurso é tamanho que reserva-se o céu em termos de ascensão naquela cidade, tendo sido parabenizado, entre vários, por Nereu Ramos, Interventor Federal à época. Dias depois transcorreria o centenário de nascimento de Machado de Assis, e seu nome é ofertado para orador oficial. Tal seu desassombro e ousadia quando expressa, em frases de rara limpidez, sua vibrante opinião sobre o escritor mais famoso, à época. Conclui o discurso, com a seguinte frase -- "Machado, a minha geração tem asco de você". Havia na sala: o orador, Ivo D’Àquino - presidente da mesa e, já na porta de saída, Norberto Silveira Júnior, seu amigo. Essa ousadia intelectual o acompanharia por toda a vida, norteando suas obras, pioneiras e contundentes, firmemente baseadas no seu poder de pesquisa, análise e síntese e em sua inabalável autoconfiança. Despede-se de Florianópolis, para onde voltaria mais tarde, e tenta banca de advocacia em Tubarão. Pouco tempo decorre e investe rumo a Araranguá, com o mesmo intuito de advogar. Inquieto por natureza, segue para Porto Alegre, Santa Maria e outras cidades, isso passa-se nos anos de 1939 e 40. Retorna ao Ceará. Após discussão com seu pai, retorna ao sul, agora para Jaraguá-SC. É nomeado promotor de justiça em Santa Catarina, em Jaraguá do Sul (1940-42) retornando ao Ceará pelo Rio São Francisco, rica experiência de viagem. Nesse curto período de retorno ao Ceará, é nomeado Promotor de Justiça na então comarca de Missão Velha (1944). Em 1945, no Ceará, alista-se no Partido Comunista.O chamado do sul era-lhe poderoso e encantador, indo à procura de colocação, sendo aprovado para o Jornal O Dia , em Curitiba, PR. No partido comunista suas idéias sobre o Comunismo logo conflitariam com a burocracia do partido. Solicita, em 1946, seu desligamento com carta ao Jornal O Nordeste, com seguinte trecho: "...O Comunismo, dirigido por um proletariado onerado de complexo e explorado por espertalhões vaidosos, seria a destruição de todos os valores culturais, seria a maior desgraça para o Brasil. O nosso regime ideal, convenci-me, é a democracia alicerçada nos princípios sadios do Cristianismo". Viaja para o Rio onde, em 1949, é aprovado para o Departamento Nacional do Serviço Social do Comércio chegando a integrar a Delegação do Distrito Federal ao 2º Congresso Pan-americano de Serviço Social (Rio de Janeiro) e à 2ª Conferência das Classes Produtoras, realizada em Araxá, MG. Apesar de ter sido sua fase mais tranqüila em todos os sentidos, o amor pelo Ceará fala-lhe mais alto e então ele, definitivamente, regressa à terra natal. Deste ano em diante, direciona seus esforços para a produção literária e o engajamento acadêmico. É nomeado Professor substituto da Faculdade de Ciências Econômicas. Confirma-se seu sucesso como Orador, a braço solto, não recorrendo a notas, discursa sobre vários e tantos tópicos, dentre eles "Rui Barbosa e a Revolução Industrial no Brasil", "Domingos Olímpio e o Romance de Seca", com sucesso refletido na mídia. Em 15 de agosto de 1951, era indicado para a cadeira da Academia Cearense de Letras, sendo essas as palavras de um dos oradores, Andrade Furtado, sobre sua escolha: "Abelardo Montenegro cultiva, na publicidade, o gênero delicado e complexo, que é a crônica jornalística, aí se localizam as fontes originárias da História. No exame dos fatos ocorrentes, na apreciação das personalidades em foco, acumulam-se materiais indispensáveis, na construção dos anais indígenas. Faz-se mister permaneçam na memória das gerações que se sucedem as ações dignas de perpetuidade, para edificação dos pósteros. ...é a faina de quem, como Abelardo Montenegro, esboça perfis e ressalta fatos, na imprensa e na tribuna, com perícia e oportunidade, no nobre intuito de trazer à plena luz, o que a obscuridade escondia, em prejuízo da contemplação de todos."

Tem passagem pela Associação Comercial do Ceará, período de 1951-52. Em 1951, participa do Conselho da Ordem dos Advogados do Brasil, secção Ceará.

Publica, às suas custas, como viria a ser em quase todas as suas obras, "Soriano de Albuquerque, um Pioneiro da Sociologia no Brasil" e "Presidencialismo, Parlamentarismo e Patriarcalismo", em 1952 e "O Romance Cearense" e "Ceará, tentativas de interpretação", em 1953 e "Antônio Conselheiro" em 1954. com sucesso expressos em crítica. Em 1954, é indicado professor interino para a cadeira Comércio Internacional e Câmbio - Técnica Comercial. Neste mesmo ano publica "Cruz e Sousa e o Movimento Simbolista no Brasil", com repercussões ruidosas na crítica nacional. Em 1956-57, publica, às suas custas, "Variações em Torno da Democracia", "Maquiavel e o Estado", "Juarez Távora e a Renovação Nacional" e "A Missão do Economista no Brasil". Funda, também em 1957, o Núcleo Estadual Cearense da Frente de Renovação Nacional. Neste ano é finalmente aprovado no concurso para a Faculdade de Ciências Econômicas, cadeira Comércio Internacional e Câmbio - Técnica Comercial, com nota 9,9, recebendo ao final, do Professor Nogueira de Paula, um de seus examinadores, o seguinte comentário : "Vossa Excia. apreciando não só como economista, mas também com esteta, a beleza dos teoremas Ricardinos sobre o Comércio Internacional não pôde deixar de ver na política econômica do mercantilismo, que precedeu a elaboração espiritual do gênio de David Ricardo, a base física ou experimental que surgiu, por certo, à formulação de um dos mais belos capítulos da Economia Clássica. É esse o valor que atribuo à sua brilhante síntese, escrita em linguagem elegante e escorreita, com profundo senso de observação terrena, para concluir, afinal, no alto campo abstrato da formulação teórica". Firmando-se na área da Sociologia e da História Política, com seus últimos livros, participa de jornais e revistas, nacionais e estrageiros, sobre a temática. Associa-se à Associação Internacional de Ciência Política, em Genebra. Funda em 1958, o Instituto Cearense de Ciência Política, ICECIPO, cujo objetivo seria a disseminação da cultura política, visando o fortalecimento da democracia. Seria, o ICECIPO, posteriormente considerado de utilidade pública. Neste ano, 1958, publica "A Corrupção do Trabalhismo", no ano seguinte viria à luz "A Praça do Ferreira", "Nordeste e Sul -- Um Confronto", "História do Fanatismo Religioso no Ceará" e "O Homem-Vassoura". Funda, em 1961, o Núcleo Cearense de Rearmamento Moral, filial local de movimento nacional de mesmo nome. No ano seguinte recebia a Medalha Mérito Santos Dumond, em prata, pelos bons serviços prestados à Aeronáutica, repercussão dos seus vários artigos sobre assuntos relativos aquela corporação, especialmente à Aviação Embarcada. Seus livros ganhavam vida própria e autonomia, sendo catalogados em bibliotecas nos Estados Unidos, Argentina, Israel, Portugal e França. Lidera a campanha em prol da federalização da Faculdade de Ciências Econômicas, sendo bem sucedida pelo ano de 1962. Nos anos de 1963 e 64, publica, "O Messianismo Alemão", "John Kennedy e a Cooperação Internacional" e o artigo "Democracia Viva". Participa da elaboração do "Dicitionary of Political Science", publicação americana. Em 1967, publica "Pontos de Economia Internacional" para suprir a lacuna de livros didáticos nesta área. É o primeiro livro escrito por autor brasileiro sobre o tema. Recebia por ele o Prêmio "José de Barcelos", ofertado pela Universidade Federal do Ceará. Seria aperfeiçoado até, 11 anos mais tarde, ser lançado o "Estudos de Economia Internacional." No sentido de prestigiar seus melhores alunos na sua cedeira na universidade e com o apoio da iniciativa privada, institui Prêmio "Irmãos Fontenele" para os destaques de cada turma. É distiguido, em 1970, com o título de "Membro Honorário" do Instituto Histórico e Geográfico de Uruguaiana, RS. Outras entidades, nacionais e internacionais, o tomam com "Membro Correspondente", participando efetivamente da história do Brasil, narrando e colaborando com jornais, revistas, institutos e outras associações. Em 1973, publica "Fanáticos e Cangaceiros" enfeixando vários estudos nessa efervecente área da sociologia e religiosidade. Seu Livro "Soriano de Albuquerque, um Pioneiro de Sociologia no Brasil" recebe o "Prêmio Bibliografia de 1977", do Instituto Histórico e Geográfico de Uruguaiana, RS. É eleito para o Instituto Histórico Geográfico e Antropológico do Ceará, em 1980, resgatando-se assim uma dívida moral a este cearense. Mozart Soriano Aderal, em seu discurso declara: "Da justiça da homenagem não é lícito duvidar. Poder-se-ia, somente lamentar a demora desta consagração pelo muito que Abelardo Montenegro tem produzido com amor indisfraçado sobre a terra de seu nascimento. ...na verdade, sois um dos nossos há muitos anos, por direito de legítima conquista, com a numerosa e escolhida bagagem intelectual e com a preciosa e personalíssima colaboração que vindes dando à bibliografia regional." Nesse mesmo ano publica "Os Partidos Políticos do Ceará" pelo qual receberia da Academia Paulistana de Letras o Prêmio CLIO de História Política. Durante sua vida acadêmica foi homenageado, quer como paraninfo, quer como patrono, ou professor amigo, por 18 turmas da Faculdade de Ciências Econômicas. Aposenta-se, pela compulsória, em 1982, acontece-lhe um grande baque, sustam-lhe o direito de divulgar seus imensuráveis conhecimentos na área a Economia Internacional. Recolhe-se, sem contudo sustar sua produção literária. Por proposta do Centro de Estudos Sociais Aplicados, o Conselho Universitário, por unanimidade, concede-lhe o título de "Professor Emérito da Universidade Federal do Ceará", por relevantes serviços prestados àquela instituição. Colabora com mais de 45 jornais e revistas nacionais e estrageiros. Seus livros foram comentados por mais de 40 jornais ou revistas, alguns rotineiramente. Mais de 150 escritores, ou emitiram juízo crítico sobre suas obras ou citaram comentários sobre seus livros, nas suas obras. Prefaciou 15 obras. Seus dados biográficos constam em 14 obras do gênero, e a crítica de suas obras compõe capítulos de livros de uma dezena de autores.

Expressa, direta ou indiretamente em seus livros e artigos, a visão de estudioso social, no efervecente caldeirão de emoções que compõem a vida do nordestino. Visceralmente ligado ao Ceará, apaixonado por esta terra, externa seu amor via a análise incansável de seu povo com a pujança de quem resgata a própria alma.. Com mais de 35 livros publicados, com três livros por publicar, tenta retratar em seus estudos o sentido da vida, do amor pela terra, da intangibilidade dos fatores que ligam o homem a seu torrão natal. Psicologia do Povo Cearense é sua última obra publicada em julho de 2000, onde ele retrata sua cosmovisão social, baseada em mais de sessenta anos de análise de seu povo e amado Ceará.

Abelardo Montenegro viveu seu tempo em toda a sua intensidade, para orgulho dos cearenses.

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