8/06/2010 - 12h33
"Criativo e polêmico, Saramago deu grande contribuição à literatura mundial", diz Ferreira Gullar; veja repercussão
Bengt Eurenius/AP O escritor português José Saramago, que morreu aos 87 anos |
Morreu nesta sexta-feira (18) em Lanzarote (Ilhas Canárias, na Espanha), o escritor português José Saramago, aos 87 anos. Em 1998, Saramago ganhou o único Prêmio Nobel da Literatura em língua portuguesa.
A Fundação José Saramago confirmou em comunicado que o escritor morreu às 12h30 (horário local, 7h30 em Brasília) na residência dele em Lanzarote, onde morava desde 1993, "em consequência de uma múltipla falha orgânica, após uma prolongada doença. O escritor morreu estando acompanhado pela sua família, despedindo-se de uma forma serena e tranquila".
Veja abaixo repercussão da morte de Saramago.
“Saramago tinha uma maneira muito própria de escrever. Era criativo, polêmico e deu uma grande contribuição à literatura mundial. Não era seu amigo pessoal e me encontrei com ele apenas em duas ocasiões, mas pude perceber que era um homem muito inteligente. Para mim, 'Memorial do Convento' foi a obra dele que mais me marcou porque reúne todas as melhores características do escritor, dono de uma literatura muito original.” - Ferreira Gullar, escritor e poeta brasileiro
"José Saramago, de quem fui leitor e admirador, era também um grande ser humano, como descobri nos vários encontros que tive com ele, em Porto Alegre, cidade onde moro e da qual gostava muito, em outras cidades brasileiras e no exterior. Uma pessoa afetiva, sensível, generosa, o que aparecia na sua prosa: autor erudito, era contudo acessível, um narrador como Jorge Amado e Érico Veríssimo, que não recusava o humor e a fantasia; "Jangada de Pedra" é disso um exemplo, e equivale ao realismo mágico latino-americano. O prêmio Nobel que recebeu é uma consagração de sua obra e estende-se toda a ficção de língua portuguesa. É verdade que Saramago por vezes mostrava-se polêmico e exagerado em suas declarações, mas ao fim e ao cabo restará a lembrança de sua notável obra e de sua extraordinária dimensão humana." - Moacyr Scliar, escritor brasileiro
"Saramago era um homem lógico, dizia que a morte é simplesmente a diferença entre o estar aqui e já não mais estar. Combatia as religiões com fúria, dizia que elas nos embaçam nossa visão, mesmo assim não consigo deixar de pensar que adoraria que neste momento ele estivesse tendo que dar o braço a torcer ao ser surpreendido por algum outro tipo de vida depois desta que teve por aqui. A lucidez naquele grau é um privilégio de poucos, não consigo escapar do clichê mas definitivamente o mundo ficou ainda mais burro e ainda mais cego hoje." - Fernando Meirelles, cineasta brasileiro que adaptou "Ensaio Sobre a Cegueira" para os cinemas. Leia na íntegra comunicado enviador pelo diretor "'Memorial do Convento' foi a obra dele que mais me marcou porque reúne todas as melhores características do escritor"
"Neste mundo há finais que também são começos, mortes que são nascimentos. E é disso que se trata. Ele foi embora, mas ficou entre nós" - Eduardo Galeano, escritor uruguaio, em entrevista à agência AFP
"Recebi a notícia com muito pesar. É uma perda para nossa cultura. Saramago era um motivo de orgulho para Portugal, esse é o sentimento de todos. Deixa uma grande obra literária que dignifica o país" - José Sócrates, primeiro-ministro de Portugal
"Poucos como ele amaram e conheceram tão profundamente nossas duas culturas" - Carmen Caffarel, diretora do Instituto Cervantes, em reporte à agência EFE
"A Academia estava aguardando a informação de quando José Saramago viria ao Rio para providenciar a organização da sua posse na Cadeira 16 de Sócio Correspondente. A notícia nos deixou em estado de enorme tristeza. A próxima sessão acadêmica, quinta-feira que vem, dia 24, na ABL, será dedicada à memória do grande escritor português, por quem sempre tivemos o maior respeito e admiração” - Marcos Vilaça, presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), em comunicado oficial
"'O Evangelho segundo Jesus Cristo' é um dos relatos mais apaixonantes e piedosos sobre a vida de Jesus" - Ivana Arruda Leite, escritora brasileira, via Twitter
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