terça-feira, 22 de junho de 2010

Deficit e superavit tiveram grafia alterada pelo Acordo Ortográfico

.

Por Thaís Nicoleti uol 17 06 10

Não estão afastados os riscos de que o país volte a incorrer em grandes deficits externos no futuro - e essa possibilidade exige atenção do governo.

Antes do último Acordo Ortográfico, usávamos as grafias "déficit" e "superávit", ambas com acento marcando a sua sílaba tônica. As palavras latinas tinham sofrido um aportuguesamento fora do padrão, que foi agora revogado.

Para entender melhor essa questão, convém observar que, na língua portuguesa, não há palavras terminadas em "t" - esse não é o nosso padrão gráfico. Um termo como "superávit" poderia receber o "e" final, adequando-se ao padrão de aportuguesamento, donde resultaria a forma "superávite".

Ocorre, entretanto, que, com "déficit", isso não seria possível sem deslocamento da sílaba tônica porque, em português, as palavras são oxítonas, paroxítonas ou proparoxítonas (estas com acento tônico na antepenúltima sílaba). Não há possibilidade, no nosso sistema, de acentuar uma sílaba anterior à antepenúltima. Com o deslocamento, teríamos algo como "defícite").

Vê-se, assim, que o problema não é fácil de resolver. No sistema ortográfico antigo, optou-se pelas grafias "déficit" e "superávit", que podiam receber o "s" de plural depois da consoante - mais uma solução fora do padrão ortográfico do português.

Com o novo acordo, essas formas voltaram à sua grafia latina (estão, agora, na lista de estrangeirismos do "Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa", documento que registra a grafia oficial das palavras no território brasileiro).

Dessa forma, perderam o acento e passam a ser tratadas como termos latinos. Perdem, portanto, o "s" de plural e passam a ser tratadas como nomes de dois números. Temos, agora, as construções "o deficit", "os deficit", "o superavit", "os superavit" - sem o "s" de plural.

Abaixo, o texto corrigido segundo a ortografia vigente:

Não estão afastados os riscos de que o país volte a incorrer em grandes deficit externos no futuro - e essa possibilidade exige atenção do governo.

Nenhum comentário: