LUIZ CARLOS PRATES
Cara limpa - Diário catarinense - 17/2/09
O que há? Quais são os limites? O que garante felicidade? O que é felicidade? É visível que há um desnorteamento existencial mais ou menos coletivo na sociedade de hoje. Você passa por uma pessoa bem-vestida, com ar de elegância, que mora numa boa casa, que tem família etc etc e fica sabendo que ela anda mordendo os cotovelos. Transtornada, faz análise, toma comprimidos, diz-se em depressão e isto e aquilo. Não, não, leitora, não pense que exagero, você não imagina o que ouço e sei de muitas pessoas da boa. Estou dizendo o que digo porque estava deixando passar uma notícia que não deve ficar assim, por isso mesmo.
Já falei aqui do Fábio Assunção, 40 anos, um guri, rico, famoso, ator de novelas da Globo, tudo, tudo mesmo para ser feliz. E não é. Não posso crer que um sujeito como o Fábio, que agora está em recuperação da dependência de drogas, possa ser feliz. Mas que diabos, o que é que podia estar faltando na vida do Fábio? Quantos gostariam de ter a metade do que ele tem? A notícia que eu ia deixar passar é do Michael Phelps, o nadador americano que ficou com problema de coluna tamanho o peso das tantas medalhas de ouro que ganhou na Olimpíada da China. Phelps foi pego fumando maconha. Maconha, aqui como nos Estados Unidos, é cigarrinho proibido. E se é proibido, não se discute, o cara que o fumar está fora da lei.
Agora me diga, por que diachos o Phelps andava com a erva do diabo nos beiços? Andava infeliz? Sim porque o sujeito costuma ir em busca das drogas quando se vê por baixo, sem graça, autoestima lá na sola do sapato, infeliz, enfim. Claro que há, neste momento, um bando de bermudões me dizendo que sou um careta, que estou errado, que isso e aquilo. Ora, vão lamber sabão. Fico buzina da vida com pessoas que têm tudo e não se dão conta disso.
Feliz, feliz quem o é na vida? Felicidade são nuvens passageiras, quando começamos a apreciá-las, esfumam-se. Será que ninguém pode passar algumas horas sem admitir um aborrecimento, um sapato apertado? A insônia tem que ser esgrimida com comprimidos, esperar pelo sono, entreter-se com uma arte, livro, filme, conversa com um amigo, com a mulher, com o marido, com o cachorro, não, isso não.
Para os frouxos, o sono está num comprimido. A saída para a angústia está em outro comprimido, e assim o pessoal sem ânimo nem alma se entrega. Se os ricos, famosos e bonitos andam se drogando, o que pode sobrar para um sujeito anônimo, pobre e feio? Para esse, muitas vezes, sobra a verdadeira felicidade: a cara limpa.
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