terça-feira, 17 de junho de 2008

O Salpicão

Língua e Literatura nº 74

Segunda, 16 de junho de 2008 :: 23h10min


Por Airton Soares

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Encantos feminis!
Ô negócio pra tirar o juízo da gente.
Tira e num bota mais no lugar e
quando bota num fica
mais do mesmo jeito.
Fica fora de esquadro, fora de prumo.
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O salpicão fumegava, nas mesas, rodeado de ervilhas e olhares pidões. Ao meu lado, um par de fartos e opulentos seios, vitrinicamente exibido, roubava a cena da venerada e salivante iguaria.
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Cuidei em dissimular minhas inquietudes. Nestas circunstâncias não é fácil administrá-las, mas engrandece quem aceita o desafio. Na verdade, a tarefa se abranda e nos torna menos vulneráveis e muito mais afoitos quando esse formigamento animal surge das profundezas do inconsciente. Daí leitor, não existir no Código Civil Brasileiro nenhum Artigo que condene os apetites do subconsciente. Não sei se a justificativa atende, mas foi a única que me veio à mente.
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O fato é que, especificamente nesta situação, entre um olhar pidão e uma carícia oftálmica venceu, folgadamente, o segundo impulso. Viajei no tempo. Criei cenários. Tornei-me amante, virei poeta!
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“Muito embora não se esgote,

todo `assunto’ que é você,

mas pelo “V” do seu decote

quanta coisa a gente vê”!
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Encantos feminis! Ô negócio pra tirar o juízo da gente. Tira e num bota mais no lugar e quando bota num fica mais do mesmo jeito. Fica fora de esquadro, fora de prumo. Balancear, alinhar direção,virar o pescoço, fazer de conta que não tá vendo.

Como? Me explique! Se a `estrada’ continua lá com suas sinuosas e insinuantes curvas?
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- “Se eu fosse você”.

- “Olhe, tome tento.”

- “Tu num sabe onde tá se metendo!”

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Também, de pouca serventia são esses conselhos, reprimendas, ou coisa parecida. Saiba doutor Superego que a libido detesta ouvir razões! Ah, e nem desconfia, o mais vocacionado e apoteótico conselheiro familiar de que numa mulher, a vulcanidade dos gestos; um cruzar de pernas; um só riso; um trejeito inocente, a mais sutil lascívia, enfim toda essa gama de sortilégio feminil que a torna fêmea, fina e flor, pode num átimo de tempo, acordar em nós, os impulsos da animalidade, da amizade e do amor.
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Por isso, leitor, tem cabimento a feliz frase do poeta Dante Milano: “No mundo, tirando a mulher, o resto é paisagem”.

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