Airton Soares
“NUM MOMENTO em que o Legislativo em geral
e o Senado em particular se vêem envoltos em graves
suspeitas, parlamentares não têm o direito de tergiversar.
Precisam apurar tudo o que remotamente
se pareça com uma infração ética.”
Na minha infância, e no começo da minha juventude, domingo era dia de ir à missa. E ia-se à missa todo nos trinques, usando-se a melhor e a única roupa - de tergal - que se tinha, com sapatos pretos muito bem nuguetados.* E tinha um detalhe: segunda-feira ou no decorrer da semana era de praxe repetir-se a mesma indumentária.
Por que a repetição? É bom dizer: não estava suja... Apenas enxovalhada. Uma sujeirinha de leve, invisível ao olho nu. Precisava-se dessa justificativa, pois a grana era curta. Curtíssima! “Mãe, qual é a roupa que eu vou pro médico?” “Menino, vai com a roupa da missa.” Era assim. Por isso, a primeira roupa de tergal cinza, a gente nunca esquece.
Lembro também de uma jocosidade. (década de 60): Todas as vezes que o rapaz ia beijar a namorada arrotava. Tentava novamente beijá-la: novo arroto. Enfim, nunca conseguia beijar a namorada. “Como é nome do rapaz?” O nome dele é tergal porque ele não ama... arrota. Este trocadilho fazia alusão ao famoso slogan da época : “Tergal é único tecido que não amarrota nem perde o vinco.”
Bom! já é tempo de escarafunchar a palavra – tergiversar - que é o foco dessa crônica. Tergiversar vem do latim tergiversare, significando virar as costas, usar de evasivas ou subterfúgios. E tergo, em latim quer dizer costas, dorso. Daí a expressão jogo de cintura que ora abunda no Senado brasileiro. O trecho acima é parte integrante do artigo "O risco é não apurar", publicado hoje na Folha de São Paulo. Chega, já tergiversei demais!
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* De nuget = cera para engraxar sapatos.
“NUM MOMENTO em que o Legislativo em geral
e o Senado em particular se vêem envoltos em graves
suspeitas, parlamentares não têm o direito de tergiversar.
Precisam apurar tudo o que remotamente
se pareça com uma infração ética.”
Na minha infância, e no começo da minha juventude, domingo era dia de ir à missa. E ia-se à missa todo nos trinques, usando-se a melhor e a única roupa - de tergal - que se tinha, com sapatos pretos muito bem nuguetados.* E tinha um detalhe: segunda-feira ou no decorrer da semana era de praxe repetir-se a mesma indumentária.
Por que a repetição? É bom dizer: não estava suja... Apenas enxovalhada. Uma sujeirinha de leve, invisível ao olho nu. Precisava-se dessa justificativa, pois a grana era curta. Curtíssima! “Mãe, qual é a roupa que eu vou pro médico?” “Menino, vai com a roupa da missa.” Era assim. Por isso, a primeira roupa de tergal cinza, a gente nunca esquece.
Lembro também de uma jocosidade. (década de 60): Todas as vezes que o rapaz ia beijar a namorada arrotava. Tentava novamente beijá-la: novo arroto. Enfim, nunca conseguia beijar a namorada. “Como é nome do rapaz?” O nome dele é tergal porque ele não ama... arrota. Este trocadilho fazia alusão ao famoso slogan da época : “Tergal é único tecido que não amarrota nem perde o vinco.”
Bom! já é tempo de escarafunchar a palavra – tergiversar - que é o foco dessa crônica. Tergiversar vem do latim tergiversare, significando virar as costas, usar de evasivas ou subterfúgios. E tergo, em latim quer dizer costas, dorso. Daí a expressão jogo de cintura que ora abunda no Senado brasileiro. O trecho acima é parte integrante do artigo "O risco é não apurar", publicado hoje na Folha de São Paulo. Chega, já tergiversei demais!
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* De nuget = cera para engraxar sapatos.
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